Por Márcia Jamille Costa | @MJamille
Os haréns sempre despertaram a curiosidade ocidental europeia onde a poligamia, além de tabu, é proibida legalmente. Quem já não viu alguma imagem em filmes como “O Escorpião Rei” (2002 – The Scorpion King no original) em que o herói cai em um harém cheio de lindas moças ou reproduções europeias que em parte retratam jovens mulheres num recinto durante o banho. Apesar do apelo, o harém poderia ser bem menos libidinoso do que a imaginação indica, começando pela a desmistificação da imagem da odalisca: diz-se que elas serviam sexualmente ao sultão, mas em suma elas eram as escravas das concubinas do senhor do palácio e, obedecendo à rígida escala hierárquica do harém, elas serviam somente sua senhora.
Parte da contradição acerca destes lugares começa pelo o nome. “Harém” (حريم – harîm – no árabe) define atualmente qualquer lugar onde existiriam várias mulheres para a satisfação sexual de um só homem, mas hoje, em alguns casos, o termo está sendo utilizado de forma equivocada, como é com os próprios “haréns” dos faraós, que embora tenham relação com a virilidade do rei, era permitido o acesso de qualquer pessoa, sendo onde, inclusive, era realizada a educação de príncipes e princesas. Estes edifícios eram palácios oficiais onde também poderia ser feita a diplomacia e resolvidas questões de sucessão real. Logo, o emprego do termo harém, que significa “proibido” não se adéqua a esta situação, mas já foi tão popularizado que hoje não há uma preocupação em mudar a forma de chamar.
Já no Egito de 1516 a 1798 AP, época em que esta parte da África era dominada pelo o Império Otomano, os homens mais celebres cultivavam um aposento com dezenas de moças e senhoras. As mulheres deste tipo de ambiente eram mantidas em salas isoladas ou em cômodos escondidos por portas falsas. Este é o verdadeiro harém, cujo objetivo era ser composto pelas esposas e concubinas do proprietário da casa. Os únicos homens permitidos em seu interior eram os eunucos.
Longe do convívio com outras pessoas as mulheres passavam o tempo experimentando roupas, escutando música, dançando e cantando, vivendo desta forma praticamente em um universo à parte do masculino, assim, para retratar o interior destes lugares alguns artistas trabalhavam com descrições de terceiros, como no caso da Imagem 02 que contou com a ajuda da mãe do desenhista, por ter sido a única a possuir permissão para entrar no local.
Assim, ao nos reportarmos à visão do harém sempre acabamos relacionando a palavra à submissão feminina e virilidade masculina, e por mais que seja aceitável para alguns ou cruel para outros estes lugares eram (e o é em alguns países) um traço da sociedade e que devido à imaginação fértil de curiosos acabaram recebendo complementações alegóricas e embora desperte muito interesse ainda é um ambiente extremamente misterioso para nós que estamos de fora.
Referências das Imagens 01 e 02:
01: Siliotti, A. 2007 Viajantes e exploradores: a descoberta do Antigo Egito. Folio, pp 77
02: Siliotti, A. 2007 Viajantes e exploradores: a descoberta do Antigo Egito. Folio, pp 113
Para saber mais:
Mitos y realidades sobre el harén: mujer y autoridad en el Imperio Otomano, 09/05/2010 <http://www.libreria-mundoarabe.com/Boletines/n%BA72%20Jun.09/MitosRealidadesHaren.htm>
Um mundo distante: As Damas do Harém, 09/05/2010 <http://leopoldina-emummundodistante.blogspot.com/2009/05/as-damas-do-harem.html>