Por Márcia Jamille Costa | @MJamille
O Egito, ao longo de seus séculos de existência, possuiu várias capitais onde se destacaram Tebas, Mênfis, Akhetaton e atualmente o Cairo. Dentre estas uma floresceu no Baixo – Egito e só teve sua decadência nos primórdios do período cristão: Bubastis.
Bubastis encontrava-se próximo a Aváris e Tânis, duas das cidades mais prosperas da antiguidade egípcia. Sua posição estratégica permitia controlar as rotas de Mênfis ao Sinai e consequentemente as vias que levavam à Síria (MALEK, 2008). Na literatura clássica o local era chamado de Bubasteion, mas dentre os egípcios a cidade era conhecida como Per-Bastet, “casa de Bastet” ou “pertencente à Bastet”. Já hoje, o lugar chama-se Tell-Basta e é popular pelas pesquisas na necrópole dos gatos. Importantes descobertas foram realizadas nos sítios arqueológicos da cidade como as sepulturas de alguns dos nobres da época do faraó Akhenaton e da tumba semi-rupestre de um dos dignitários de Ramsés II, Netcherouymes, que foi, possivelmente, um dos homens envolvidos no tratado de paz assinado entre os egípcios e hititas.
Sua acessão como sede do governo se deu durante o Terceiro Período Intermediário (cerca de 1076 – 712 a.C, XXI – XXIV Dinastias), num tempo em que várias famílias de diferentes governantes comandaram simultaneamente o Egito. Foram os invasores líbios que transformaram Bubastis na capital, na medida em que a antiga sede, Tebas, entrava em declínio. (SILIOTTI, 2006)
Embora a cidade seja relacionada à deusa Bastet, em sua necrópole também existiam múmias de outros animais além do gato, cujo culto tornou-se popular durante a Baixa Época e principalmente período Ptolomaico. A figura do gato desempenhava um papel importante na cultura religiosa egípcia: além de representar a doçura ele também poderia ser considerado um dos símbolos do combate do bem contra o mal, já que existem representações de felinos lutando contra a serpente maligna Apophis.
Tamanha era a estima dos antigos egípcios pelos gatos que quando mumificados o corpo destes animais era depositado em pequenos esquifes de madeira, não raramente com o seu exterior coberto de estuque e pintado imitando-o em vida, e guardados em catacumbas. Devido ao culto muitos deste tipo de múmias eram vendidos a devotos que esperavam que o bichano intercedesse por eles aos deuses, o que acabou por se tornar uma atividade extremamente rentável aos sacerdotes.
Bubastis experimentou a decadência com o início da era cristã no Egito, quando as antigas crenças dos faraós tornaram-se blasfêmias. A cidade não mais seria conhecida pelo o culto aos gatos e as pequenas múmias destes felídeos acabaram por ser negligenciadas nos séculos seguintes sendo vendidas como souvenir ou fertilizante e não muito raramente deixadas para traz pelos pesquisadores responsáveis pelas áreas de necrópoles de animais durante parte do século XIX. Apesar de abandonada outrora, hoje a cidade recebe a dedicação merecida por parte da academia, a exemplo da Missão Arqueológica Francesa (MafB) e seu trabalho no local. Já as múmias felinas hoje não são usadas mais como adubo, e sim como importantes objetos de estudo tal como as múmias humanas e até recebem tratamento não invasivo. O progresso no campo da arqueologia não alcançou só homens e mulheres, mas também os animais que conviveram com eles em sua capital.
Referências:
MÁLEK, J; BAINES, J. Deuses templos e faraós: atlas cultural do Antigo Egito. Barcelona: Ediciones Folio, p 174 – 175. 2008
SILIOTTI, A. Egito. Barcelona: Ediciones Folio, p 59. 2006