Por Márcia Jamille Costa | @MJamille
Agora, na edição de maio da revista Leituras da História (da Editora Escala), está disponível nas bancas brasileiras a matéria com o faraó Tutankhamon na capa. O preço é R$8,90. Na edição, além da matéria ligada a Arqueologia Egípcia, encontramos também um texto para discussão em sala de aula sobre a Revolta da Chibata, e uma matéria que gostei [1] sobre as cápsulas do tempo (a autora, Morgana Gomes, cita até a Arqueologia). Alguns dos textos vêm com uma lista de bibliografia, muito interessante.
Fiquei bastante animada em ver novamente uma matéria de capa com o Tutankhamon, mas logo de cara ela traz um erro em seu subtítulo quando lemos “Leituras da História apresenta os mistérios que restam aos arqueólogos – e à Ciência – desvendar”, a Arqueologia é tratada como ciência, então não faz muito sentido desvincular.
A proposta da matéria é apontar cinco mistérios acerca da vida e da morte de Tutankhamon, no “Mistério um” não entendi a relevância de mencionar um dos muitos achados de estátuas do faraó Amenhotep III no momento de se falar quem seria o pai do Tutankhamon, ao ler esta parte só se passou por minha cabeça a pergunta “Sim… E daí?”. Então, falar sobre esta descoberta em Kom Al Hitan, na minha opinião, foi muito desnecessária. No “Mistério dois” não vi problemas, pelo o contrário, trouxe até uma adição com um comentário sobre uma das novas propostas de quem seria a mãe do faraó.
No “Mistério cinco” é necessário um esclarecimento sobre a ausência de ossos em um dos pés do faraó. Isto teria sido causado por uma osteonecrose, que se mostrou nos anos finais da vida do Tutankhamon, em suma, não é que ele tenha tido dificuldade de se locomover a vida inteira, mas somente no final dela.
Os erros mais bizarros da matéria estão nas imagens disponibilizadas. Na página 42 eu sinceramente não sei dizer se a foto com a legenda apontando para o Akhenaton é ele mesmo, mas na imagem com a legenda do Smenkhare, em verdade, é o Akhenaton, por acaso é uma das estátuas mais famosas dele, este foi um erro totalmente desnecessário. Na página 43, na imagem de um dos fetos encontrados na tumba do Tutankhamon ambas as legendas estão erradas, os fetos foram encontrados em sarcófagos próprios na Câmara do Tesouro, que fica um cômodo ao lado da Câmara do Sarcófago, onde está o corpo do rei, e ambos os bebês estão em Kasr El Ainy, a Faculdade de Medicina do Cairo, e não no Museu Egípcio de Berlim. Na imagem da página 44 vocês poderão observar a foto de uma múmia com a legenda “A valiosa múmia de Tutankhamon (…)”, mas na imagem está a imagem da “Jovem Dama” (YL) da KV-35, mulher que de acordo com o DNA, cujo resultado foi liberado em 2010, é a mãe de Tutankhamon. No detalhe da mesma imagem a redação aponta para o que na legenda diz ser a fratura do osso esquerdo do faraó, mas o que vemos é a foto de parte da luva de coroação de Tutankhamon.
Na página 45 tem um quadro falando sobre a Maldição de Tutankhamon, nele diz que na parede da tumba existe uma inscrição amaldiçoando quem perturbar o local. Na verdade não existe nenhuma inscrição do gênero lá.
Não faço a menor ideia se este texto recebeu a correção de um arqueólogo especializado em egiptologia ou um egiptólogo (creio que não, já que não há menção), mas devo falar que infelizmente esta matéria não se tornou lá a minha favorita.