Sítios arqueológicos e a arte dos turistas sem-noção

Por Márcia Jamille | Instagram | @MJamille

Semana passada algumas fotos turísticas foram publicadas pelo o usuário do Facebook د. محمد قاسم em um grupo de discussões sobre o antigo Egito. A problemática de tais fotografias é que nelas são mostradas pessoas aproveitando a sua visita ao país para fazer poses que consideraram “legais” com artefatos arqueológicos, tocando-os (ignorando as faixas de contenção) e até mesmo subindo neles.

No referido grupo a atitude dessas pessoas foi criticada porque elas não estariam respeitando o teor sagrado de tais peças. Eu acho essa uma justificativa lúdica, mas não dou razão de forma alguma para essas turistas e muito menos tiro a responsabilidade do governo egípcio em vários aspectos como de segurança nas áreas históricas para evitar atos de vandalismo e a ausência de projetos de “educação patrimonial” efetivos. — Clique aqui e leia mais sobre Sítios arqueológicos em perigo.

As mensagens passadas pela a organização turística no Egito são dúbias, por exemplo, em Gizé é permitido aos visitantes subirem alguns degraus da Grande Pirâmide (mas são proibidos subir todo o edifício por motivos de segurança). Em uma pequena escala não existe risco para a estrutura, mas como explicar aos visitantes mais desavisados que não podem fazer a mesma coisa em outros lugares?

Muitos turistas só querem conhecer uma cultura nova, realizar o sonho de conhecer o Egito, mas é inegável que existem aqueles com a “síndrome do aventureiro”, inspirados por filmes como Indiana Jones e Tomb Raider. Por outro lado também temos as relações de poder que vem de meados do século XVIII e foram se desenvolvendo, como podemos observar várias e várias vezes nos registros fotográficos históricos e até mesmo em ilustrações, onde temos o turista ou o explorador mostrando sua superioridade ou simplesmente sua insensibilidade apoiando os pés sobre um artefato arqueológico.

Rememoremos o caso da estátua centenária do filólogo francês Jean-François Champollion (1790 — 1832), que está em exibição no Collège de France, em Paris. Embora esteja no local desde 1878, a imagem causou em 2013 grande comoção entre alguns egípcios e em especial no Ministério de Antiguidades porque o pesquisador foi retratado pisando na cabeça de uma imagem faraônica. Esta representação foi vista como um ataque à dignidade e a reputação do patrimônio cultural e arqueológico do Egito [1].

Fonte: commons.wikimedia.org

Fonte: French Post-Colonial Arrogance prompts Cultural Row with Egypt

Queixar-se sobre esse tipo de representação não é exagero; essa atitude de pisar ou subir em artefatos arqueológicos foi por muitos anos utilizada como um discurso que vendia a imagem de um poder cultural e/ou econômico de uma classe diletante que se considerava superior em relação ao Egito, além de uma falsa ideia de posse. Esse último creio que é o caso dessas turistas

Update 22 de agosto de 2015 – Mensagem enviada por Juliana Paraizo, via Facebook:

Estive no Egito em julho e é exatamente isso o que acontece, infelizmente os próprios funcionários que trabalham nos templos, sarcófagos e pirâmides autorizam e ate incentivam esse tipo de atitude em troca de dinheiro, os poucos policiais que ali trabalham tentam conter esse assedio por parte dos funcionários, porem o numero de policiais e pequeno. O problema e que esse tipo de turista não tem a real noção da importância desses monumentos.


‘Derogatory’ Champollion statue in Paris angers Egyptians. Acesso em 18 de agosto de 2015. Disponível em <http://english.ahram.org.eg/NewsContent/9/40/65660/Heritage/Ancient-Egypt/De%20rogatory-Champollion-statue-in-Paris-angers-Egyp.aspx>.