Por Márcia Jamille Costa | @MJamille
Está disponível nas bancas neste mês a revista História Viva especial Arqueologia. Olhei o material de uma forma geral, não me preocupei em observar os textos que não dizem respeito à Arqueologia Egípcia, então assim elaborei meus comentários. De antemão deixo claro que a edição foi dividida em partes de acordo com a geografia: a primeira é dedicada a Arqueologia Européia, e segunda a Arqueologia Americana, e a terceira a Arqueologia Africana e Asiática.
Logo de cara não gostei das primeiras palavras que li no momento da apresentação da revista (no texto Os Indiana Jones pós-modernos), não foi interessante encarar aqueles que escavam por conta própria como algo normal, principalmente por que não só aqui no Brasil, mas em outras partes do mundo (a exemplo do próprio Egito) é crime fazer escavações em sítios sem permissão. O trabalho de arqueologia vai muito além de amor e curiosidade, é uma ação que requer responsabilidade e qualificação.
Em Mapas do tesouro foi feito algo bem bacana: colocaram um mapa e pontos mostrando as descobertas mais recentes da Arqueologia com um quadro de informações e o número da página em que se encontra a matéria.
O texto A tumba de Cleópatra, de Claudine Le Tourneur d’lson, fala sobre as pesquisas da arqueóloga dominicana Kathleen Martinez no sítio onde está situado o templo Taposiris Magna. Infelizmente, para um texto que deveria ser só informativo, tratou o SCA e Zahi Hawass como se fossem figuras presunçosas (embora, no caso do último tenha sido mesmo, ao alertar a imprensa sobre a suposta presença do túmulo de Cleópatra na região – erro levemente semelhante ao provocado em 2003 pela pesquisadora Joann Fletcher no caso do documentário “Nefertiti Revelada”, produzido e distribuído pela Discovery Channel). A chamada para o texto de cara não me agradou nenhum pouco, nele estão os dizeres “Os pesquisadores têm certeza de que estão prestes a encontrar a sepultura da rainha egípcia e de seu ilustre amante. Seria a descoberta mais importante desde a do túmulo de Tutancâmon” e no meio do texto a autora menciona que seria “uma descoberta mais fabulosa do que a de Tutancâmon” de acordo com o Zahi Hawass -. Independente de quem tenha sido a opinião, é muito triste que alguém publique isto, não é saudável aplicar valores a descoberta “x” ou “y” como se a arqueologia fosse um jogo de caça ao tesouro. O assunto “Cleópatra” é um tema polêmico, e quando a egiptóloga Claudine põe em um dos pontos que a então princesa Cleópatra vivia a sombra do pai e era a sua filha favorita também não me agradou, não sabemos de detalhes precisos da vida da governante, o que chegou até nós são frutos de opiniões de segunda mão, por que encher os leitores com ilusões? Acho que seria mais interessante se ela deixasse obvio no texto que o que ela escreveu faz parte da lenda, e não o reflexo de uma realidade que nem sequer sabemos qual era. São aspectos assim que não me agradam em um texto.
Em Indiscrições da família real logo em sua chamada encontrei um problema, lá fala que os bebês de Tutankhamon eram gêmeos. Esta é uma teoria de uma segunda equipe a qual ainda não tenho confirmação se foi tomado como verdade. A matéria é composta por somente duas páginas com um breve resumo dos resultados do exame de DNA feito com amostras retiradas do faraó Tutankhamon e outras múmias desconhecidas. Muito curto? Sim. Impreciso? Não. Gostei, pois em poucas palavras mostrou as deduções atuais acerca da pesquisa feita com o corpo do faraó e sua família. Só uma correção, a XVIII Dinastia termina com Horemheb, sucessor de Ay, que por sua vez foi sucessor de Tutankhamon, não sei qual foi a intenção da revista ao fechar a dinastia com os bebês mortos do faraó.
Em Funeral Egípcio, também muito curto, dava para colocar mais informações, decepcionou um pouquinho, mas apontaram a descoberta recente da cama para desidratação encontrada na KV-63, o que de certa forma me animou.
Estas três foram as únicas matérias sobre descobertas recentes feitas no Egito. Se eu precisasse dar uma nota para o conteúdo daria 7,5. Tentei, mas não consegui me agradar com o texto A tumba de Cleópatra. Se a revista tivesse trazido somente esta matéria eu confesso que seria decepcionante. Mas preciso fazer uma ressalva importante: História Viva especial Arqueologia trouxe para nós uma entrevista com o arqueólogo Jean-Paul Jacob, presidente do Instituto Nacional de Pesquisas arqueológicas Preventivas da França. Isto ajudou, até certo ponto, a perdoar os erros iniciais.
Ficha técnica:
Título: História Viva especial Arqueologia
Autor: Vários
Ano de publicação (Brasil): 2011
Distribuição: Duetto
Tema: Arqueologia, descobertas recentes, Arqueologia Mundial