Ontem quando fiquei sabendo da renuncia de Mubarak a ficha demorou a cair por vários minutos. Fiquei de olho na CNN o tempo todo esperando que alguém desmentisse, mas o que vi foram fogos de artifício, gritos de alegria e por fim muitas pessoas voltando para casa com os seus carros sendo “abençoados” pela bandeira egípcia.
Euforia, revolução e vitória, estas são, dentre tantas, as palavras que descreveram o dia de ontem… Ontem que já tinha sido decidido que iria se chamar “dia dos mártires” em homenagem as pessoas que morreram durante os confrontos e que agora muitos acreditam que por um intermédio divino olharam pela revolução.
Este foi um protesto legítimo e, apesar de alguns grupos que usaram de má fé o propósito, foi simplesmente elegante no sentido que todos mantiveram um respeito mútuo e pessoas de várias idades e ambos os sexos dormiram durante dezoito dias debaixo do mesmo Sol e da mesma Lua, astros que outrora abençoaram os seus antecessores otomanos, romanos, macedônios, persas, núbios e egípcios da era faraônica. O Cairo se mostrou grande, mas não por sua universidade antiga, sua linguagem ou cultura, mas por seu povo que na esperança de um futuro mais justo rezou lado a lado com pessoas de religiões distintas. Foi lindo ver católicos e mulçumanos, um ao lado do outro, como verdadeiros irmãos olhando para o céu segurando seu crucifixo e corão. Há algo mais legítimo do que isto?
Mubarak fez muito por seu país, isto não podemos negar, mas ele tirou muito mais do seu próprio povo: prisões, inflação, salários desonestos, corrupção e mentiras. Maldades irreparáveis que alimentaram ainda mais o sentimento de impunidade no coração de muitos jovens que estavam crescendo sonhando com uma melhor perspectiva de vida.
O dia 25 de Janeiro (como agora carinhosamente mencionamos de #25JAN – uma tag no Twitter -) será lembrado como o dia em que um povo pacífico e surrado foi as ruas e levaram consigo variados tipos de gente com a esperança de uma vida mais digna e o dia 11 de Fevereiro como o dia em pessoas que gritavam pela a liberdade e esperavam pacientemente em uma praça, agora mundialmente famosa, receberam a notícia do fim de três décadas de um governo repressor.
Fiquei feliz ontem por dois motivos, um pela a coragem egípcia e outro durante a entrevista de um egípcio que dizia que eles logo vão conseguir se reerguer e dentre tantas coisas iriam recuperar quaisquer peças arqueológicas que tenham sido roubadas. Seu nome é Mohamed Habib e ele é só uma fina linha de toda a emoção destes maravilhosos africanos que neste início de ano surpreenderam o mundo de diversas formas.
Talvez seja muito cedo falar “seja bem vido a democracia Egito”, mas foi a esperança que deu sucesso aos protestos e ela tem que continuar em vigor em nome de um bem maior, que é a liberdade.
Parabéns Egito (#CongratsEgypt), vocês conseguiram!
Márcia Jamille N. Costa