Por Márcia Jamille Costa | @MJamille
Coincidindo com a semana de aniversário da descoberta da tumba do faraó Tutankhamon (a KV-62), o jornalista Reinado José Lopes lançou esta semana no site Folha Uol uma matéria comentando a pesquisa da farmacêutica Maria Rosa Guasch Jané acerca dos vinhos encontrados na câmara funerária deste governante. Neste artigo em questão só não achei justa a expressão “farmacêutica (…) com alma de arqueóloga”, isto foi algo tão século XIX, uma época onde ainda poderia se dizer que Arqueologia era um hobby .
Comentários sobre as pesquisas com os vinhos da KV-62 já são conhecidos, mas pouco explanados. Não conheço nenhum paper ou artigo sobre, por isto não posso explanar acerca do que está sendo divulgado pela imprensa.
Abaixo a matéria na integra:
Vinhos enterrados com Tutancâmon serviam para levá-lo aos deuses
Publicado: 31/10/2011 – 14h17
Por: Reinaldo José Lopes (Editor de Ciência e Saúde)
O rei-menino mais famoso da Antiguidade fez questão de levar consigo três tipos de vinho –dois tintos e um branco– quando partiu desta para uma melhor. O enigma, até agora, era o porquê disso.
Uma farmacêutica catalã, com alma de arqueóloga e paixão pelo antigo Egito, diz ter resolvido o mistério. Tutancâmon (1333 a.C.-1323 a.C.) teria escolhido uma adega mística, e as seletas bebidas permitiriam que ele realizasse o destino de todo bom faraó: unir-se aos deuses.
Maria Rosa Guasch Jané, 38, nascida em Barcelona e hoje pesquisadora da Universidade Nova de Lisboa, publicou sua engenhosa tese na revista científica “Antiquity”. Guasch Jané e seus colegas tinham sido os responsáveis por identificar os vinhos do faraó em pesquisas anteriores.
A pista usada pela equipe foi a presença residual de ácido siríngico, um derivado da malvidina, substância exclusiva de uvas vermelhas, em duas ânforas (jarros).
A posição das ânforas, contudo, ainda deixava a pesquisadora com a pulga atrás da orelha (leia mais no infográfico). Colocadas dentro da câmara mortuária propriamente dita, elas foram posicionadas ao leste, ao oeste e ao sul do sarcófago. “Não havia nenhuma no norte”, lembra ela.
“Os egípcios tinham rituais muito complexos para permitir a ida ao Além, e me pareceu que esses três vinhos poderiam ter esse propósito, por estarem tão perto do faraó defunto”, afirma.
Durante o reinado de Tutancâmon, a teologia egípcia fundiu o deus solar Ra com Osíris, divindade dos mortos e da ressurreição. O faraó era considerado divino já em vida. Mas, para conseguir ressuscitar após a morte, ele tinha de incorporar Osíris.
Para Guasch Jané, essa é a chave do mistério. Os vinhos do leste e do oeste (respectivamente um branco e um tinto) simbolizam o trajeto do deus-Sol Ra pelo céu: vermelho-escuro no poente e claro ao amanhecer.
Mais importante ainda é a bebida do sul. Em egípcio, ela é designada por uma palavra especial, “shedeh”, que não é o mesmo termo usado para um vinho comum (“irep”) e designa uma bebida muito apreciada e refinada.
Textos egípcios mencionam que o “shedeh” era filtrado e aquecido. “É algo que se vê ainda hoje em vinhos para usos religiosos, como no judaísmo”, diz Alexandra Corvo, da escola Ciclo das Vinhas. Segundo ela, o processo deixaria o vinho com menos álcool e mais adocicado.
Pois bem: era a partir da região sul do céu que, segundo a mitologia egípcia, o faraó, unido a Osíris, navegava antes da aurora. Se a interpretação estiver certa, o “shedeh” estava ali para fortalecer o rei na parte mais importante de sua jornada para se unir aos deuses do Egito.
Retirado de “Vinhos enterrados com Tutancâmon serviam para levá-lo aos deuses”. Disponível em < http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/999343-vinhos-enterrados-com-tutancamon-serviam-para-leva-lo-aos-deuses.shtml >. Acesso em 01/11/2011.