Por Márcia Jamille | @MJamille | Instagram
O Egito Antigo é alvo de muito fascínio ao redor do mundo. Diferentes pessoas advindas de diferentes culturas sempre se encantam pela terra dos faraós e consomem diversos materiais sobre o tema. Entretanto, entre alguns o amor a esta antiga civilização vai além e vira o desejo de se tornar uma profissão.
Existe uma disciplina chamada Egiptologia, que trata do estudo do passado egípcio (dando maior destaque aos períodos anteriores a dominação romana). Sumariamente europeia, ela nasceu após a invasão napoleônica em 1798, sendo desenvolvida após a decifração dos hieróglifos egípcios por Jean-François Champollion (1790-1832). Foram então os franceses e paralelamente os ingleses quem, a priori, monopolizaram os estudos do passado egípcio seja possuindo as maiores cadeiras de Egiptologia, ou comandando as principais missões de Arqueologia do país. O Serviço de Antiguidades por exemplo, que atualmente atende por Supremo Conselho de Antiguidades (e que está dentro do Ministério das Antiguidades) foi criado em 1858 e até 1953 sua direção esteve nas mãos de franceses.
Mas, com os últimos desenvolvimentos da disciplina o comando do estudo da Egiptologia tem saído da Europa e ido para potências americanas tais como Estados Unidos e Canadá e orientais, a exemplo do Japão. E somado a isto está o investimento em educação por parte de países em desenvolvimento, levando cada vez mais jovens a se interessar em seguir o seu sonho em uma carreira na Egiptologia.
Egiptólogos em ação.
Contudo, para aqueles que vivem em países que não possuem uma cadeira na área, a exemplo do Brasil, seguir esse interesse profissional está mais para um sonho do que realidade. Isto porque não dependem somente de fatores sociais, mas de professores disponíveis ou dispostos a orientar. Assim, é possível entender a pressão para que o aluno procure por universidades estrangeiras.
Ainda demorará alguns anos para que o Brasil tenha uma cadeira em Egiptologia. Felizmente alguns passos já estão sendo dados como a realização de cada vez mais cursos de extensão e palestras voltadas não só para acadêmicos, mas também para o público curioso. Assim como mais conclusões de cursos defendidas, artigos publicados e o mais notável: trabalhos que estão saindo do eixo Rio de Janeiro/São Paulo. Sem contar as participações em escavações em sítios arqueológicos egípcios (neste caso para quem tem interesse na Arqueologia).
O estudante brasileiro em uma graduação ou em um mestrado interessado em trabalhar de forma acadêmica o Egito Antigo encontrará várias dificuldades em seu caminho. E certamente no futuro não trabalhará diretamente na área, dependendo assim da sua formação base como historiador ou arqueólogo. É a realidade pura e simples. Alguns tentaram realizar o seu sonho e outros desistirão por conta das dificuldades financeiras, ou da ausência de apoio por parte da família ou mesmo de seus próprios pares.
Parece que estou criando um cenário pessimista, mas, o que eu quero realmente com este texto é que vocês estudantes mantenham os pés no chão. Nos últimos anos pessoas na TV e na internet têm tentado nos vender a ideia de que se você for perseverante e trabalhar duro conseguirá realizar os seus sonhos. Entretanto, existe certa mentira aí. Sonhos não se realizam somente com suor e lágrimas, infelizmente necessitam também de capital e suporte dos pares. Sem contar os muitos “nãos” no meio do caminho. Por isso, caso queira se aventurar em estudar academicamente o Egito Antigo no Brasil lembre-se que terá que tratar com diferentes situações a curto ou a longo prazo desde dificuldades financeiras a ausência de auxílio.
Mesmo sabendo disso você quer tentar? Se sua resposta é “não” nós que estamos nesta batalha há mais tempo entendemos totalmente. O meio acadêmico não é fácil o por vezes pode ser um território tóxico. Mas, se for sim: bem-vindo! Você possivelmente passará por momentos ruins, mas tente ter um grupo de apoio. O meu está sendo a minha família, alguns amigos e professores. Qual seria o seu?
Para saber mais:
No canal do Arqueologia Egípcia existe uma playlist onde respondo questões dos leitores. Já respondi algumas relacionadas com a Egiptologia. Se for do seu interesse clique aqui para assistir ou veja abaixo: