Por Márcia Jamille | @MJamille | Instagram
A vida no Antigo Egito (Life in the Ancient Egypt, no original) é um dos livros que eu mais cito em artigos, embora ele não seja do meu agrado. Ele apresenta de forma linear aspectos da vida no Egito faraônico como a concepção da vida, o nascimento, a educação infantil, as brincadeiras, o amor, sexo, trabalho e a morte. O seu autor, o Eugen Strouhal, estudou medicina, arqueologia e antropologia em Praga e Bratislava. Trabalhou no Egyptological Institute e no Naprstek Museum em Praga e já escavou na Núbia com uma missão checa e no Egito na cidade de Abusir. Também trabalhou com uma missão anglo-holandesa.
Em um contexto geral a obra não decepciona, mas existem algumas questões problemáticas. Uma delas é o aparente machismo do autor, que descreve a vida das mulheres como parte da preocupação econômica dos homens, adotando o discurso de que elas não precisavam trabalhar para se sustentar, embora saibamos que esta é uma ideia equivocada e que leva a diante os discursos propagados por egiptólogos de séculos passados. Em complemento embora sustente o discurso da inferioridade feminina no Egito Antigo, ele consegue contradizer-se em outras sentenças ao falar da liberdade das mulheres egípcias, como escrever contratos de emprego, exercer diferentes cargos desde camponesas a supervisoras e até disponibilizar empréstimos.
Da mesma forma é a afirmação da existência de escravidão: ele usa esta definição, embora o conceito de escravidão para o Antigo Egito precise ser revisado porque também foi pensado no início da Arqueologia Egípcia, quando o seu estudo era influenciado ao máximo pelas fontes clássicas e bíblicas.
Outra grande questão identificada são os erros de digitação (letras em falta, palavras escritas com as sílabas separadas) e de ortografia de alguns nomes próprios. A escrita em si também não é muito animadora, sendo por vezes um pouco confusa (como no 1º Capítulo) ou não linear, o que pode confundir até mesmo os leitores mais inteirados na antiguidade egípcia.
Existe também a ausência de referências em meio aos textos para a confirmação de alguns dados, exceto pela lista bibliográfica ao final. Logo, a única fonte de informação acerca de determinados assuntos é o próprio Strouhal, mas este não é um problema único dele, podemos notar isso em muitas outras obras estrangeiras (o que é bem irritante).
Contudo, um dos pontos positivos é justamente a presença de várias informações acerca da vida cotidiana no Egito faraônico, todavia, reiterando, algumas informações são equivocadas e frutos de estereótipos. O outro são os registros fotográficos, o livro é muito bem ilustrado e as fotografias contém em suas legendas informações parciais sobre o sítio de onde se localiza (ou se localizava) o objeto retratado e a datação dele de acordo como período histórico ou dinastia.
Ele também apresenta muitos termos do egípcio antigo, o que pode enriquecer um pouco o conhecimento linguístico dos leitores.
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Reafirmo que no geral ele não decepciona, mas eu aconselho aos interessados a lerem obras de teoria da Arqueologia e criticas ao Orientalismo antes de se dedicar a este livro porque assim será possível entender alguns dos posicionamentos adotados ao longo dos capítulos.
Dados do livro:
Título: A vida no Antigo Egito
Gênero: Egiptologia
Autor: Eugen Strouhal
Tradutores: Iara Freiberg, Francisco Manhães, Marcelo Neves
Editora: Folio
Ano de Lançamento (Brasil): 2007