Por Márcia Jamille Costa | @MJamille
Link enviado por Jacy Martins via Facebook [4].
Na ultima semana de fevereiro (2013), a arqueóloga da Austrian Academy of Sciences, Hilke Thür, durante sua palestra Who Murdered Cleopatra’s Sister? And Other Tales from Ephesus, no Museum of History in Raleigh na Carolina do Norte, afirmou ter identificado os ossos da irmã de Cleópatra VII, Arsinoe IV, princesa que de acordo com a historiografia teria traído a irmã e organizado uma rebelião se proclamando rainha. No entanto, Cleópatra VII venceu Arsinoe IV e com o auxílio de Júlio Cesar a enviou para o exílio, mas por ser uma rival ao trono teria sido assassinada em 41 antes da Era Cristã, sob as ordens da irmã e Marco Antônio.
Os ossos foram encontrados em 1926 nas ruínas de Éfeso, uma antiga cidade grega na Turquia, especificamente dentro de uma estrutura arquitetônica denominada “O Octógono”, e teve o crânio separado do restante do conjunto. O corpo só foi reencontrado em 1985, já o crânio está desaparecido.
Uma polêmica desde 2009:
De acordo com a pesquisa, a mulher, hora identificada pela impressa como uma jovem de 15 a 16 anos, hora como uma de 18 a 20, teria vivido em algum momento no século I antes da Era Cristã, período em que Cleópatra VII viveu, e Éfeso seria o local em que a princesa teria sido exilada. Munida destas informações, Thür deduziu que tais ossos seriam Arsinoe IV porque eles foram sepultados em uma localização ilustre e pelo desenho octogonal da tumba ele remeteria ao formato do farol da ilha de Pharos, o hoje chamado “Farol de Alexandria”. Porém, suas evidencias são circunstanciais.
A professora de assuntos clássicos de Cambridge, Mary Beard, confirma que a princesa teria sido assassinada em Éfeso, mais especificamente na escada do templo de Diana, mas este seria o único episódio que a ligaria ao local. Já a tumba octogonal, que não faz inferência nominal acerca de quem a ocupa, não tem o que remeta de fato ao farol de Alexandria [2].
Para aumentar a polêmica, o crânio foi submetido a uma reconstituição facial realizada pela equipe do Scotland’s University Of Dundee. A imagem foi lançada em 2009 no documentário Cleopatra: Portrait of a Killer (BBC), apresentada como sendo Arsinoe IV, mesmo sem nenhum dado conclusivo.
A equipe também tentou aplicar testes de DNA, mas os ossos estão contaminados devido a manipulação por parte de várias pessoas.
De acordo com o classicista David Meadows tal reconstituição foi realizada com dados de medidas do crânio retiradas em 1920 [3], uma vez que sua atual localização é desconhecida desde a Segunda Guerra Mundial. Isto nos dá mais um problema metodológico. Em seu blog www.rogueclassicism.com, em 2009, ele realiza um apanhado de artigos de jornais que comentaram sobre o crânio e fez questão de denotar a importância da impressa para a disseminação equivocada (embora “irresponsável” seja a melhor definição) desta notícia.
Minha opinião:
Dado o que foi apresentado pela a equipe é impossível não concordar com os demais pesquisadores que não aceitam a proposta de Thür e seus colegas. As evidencias organizadas são extremamente circunstanciais e deixa uma “dúvida razoável” entre os leigos e isto justamente com um assunto tão polêmico, já que se trata de algo associado com Cleópatra VII.
Quando indagada acerca das críticas que vem recebendo dos colegas, Thür afirma que se trata de ciúmes[1][4]. Inveja na academia é um dos sentimentos mais corriqueiros, mas nesta situação os questionamentos e críticas possuem validade.
David Meadows, ainda em seu post, faz uma abordagem interessante e que precisa ser levada em conta: não se sabe como se deu o sepultamento. Teria sido da forma tradicional egípcia ou não? E aqui deixo o meu complemento: mesmo que ela não tenha recebido um sepultamento egípcio, o acompanhamento funerário poderia dizer algo acerca, no entanto, aparentemente não foi divulgado nada sobre.
Meadows faz outra chamada: de acordo com a descrição o crânio teria sofrido um tratamento de alongamento durante a infância, mas são traços encontrados em crânios da Turquia e Arsinoe IV nasceu e cresceu em Alexandria. Existem debates acerca da prática do alongamento craniano entre os egípcios e até onde posso afirmar nenhum entre sociedades influenciadas pela cultura grega (como foi a família ptolomaica).
O irônico na teoria de Hilke Thür é que ela está se empenhando muito em defender que se trata de Arsinoe IV, mas ignora a possibilidade de que esta descoberta possa vir a esclarecer um pouco da história de outro indivíduo que em nada tem relação com a sociedade egípcia e que graças a esta exploração da história da princesa exilada continuará sem identidade.
Fonte da notícia:
[1] Bones Of Cleopatra’s Murdered Half-Sister Identified, Archaeologist Says. Disponível em < http://www.huffingtonpost.com/2013/02/26/cleopatra-half-sister-bones-murdered_n_2766739.html?utm_hp_ref=fb&src=sp&comm_ref=false >. Acesso em 27 de fevereiro de 2013.
[2] The skeleton of Cleopatra’s sister? Steady on. Disponível em < http://timesonline.typepad.com/dons_life/2009/03/the-skeleton-of.html >. Acesso em 02 de março de 2013.
[3] Cleopatra, Arsinoe, and the Implications. Disponível em < http://rogueclassicism.com/2009/03/15/cleopatra-arsinoe-and-the-implications/ >. Acesso em 02 de março de 2013.
[4] Archaeologist: Bones found in Turkey are probably those of Cleopatra’s half-sister. < http://www.newsobserver.com/2013/02/24/2697973/archaeologist-says-bones-found.html#storylink=rss >. Acesso em 27 de fevereiro de 2013.
Have Archaeologists Found Cleopatra’s Half-Sister?. Disponível em < http://bonesdontlie.wordpress.com/2013/02/28/have-archaeologists-found-cleopatras-half-sister/ >. Acesso em 03 de março de 2013.