Por Márcia Jamille Costa | @MJamille
Embora não exista um texto teológico padrão, as sociedades egípcias do Período Faraônico produziram muitos objetos com finalidades religiosas, especialmente os ligados aos espólios funerários. Alguns destes artefatos contêm pequenas narrativas produzidas em textos ou imagens. Um exemplo são os sarcófagos que não raramente descreviam a jornada do falecido pelo o “Além-Vida”, somado a contos relacionados com algum acontecimento na existência dos deuses. Vejamos aqui os sarcófagos de Butehamon (21ª Dinastia; Terceiro Período Intermediário):
Estes caixões foram descobertos em Deir el-Medina, no túmulo TT291, na necrópole tebana. Ele está repleto de figuras religiosas, tal como a que vem a seguir:
Nesta cena em questão é mostrada parte da criação do cosmo (entendido aqui como a “harmonia” do Universo) com a separação do céu (na figura da deusa Nuit) e da terra (representada pelo deus Geb).
Alguns pontos para a observação:
(1) Nuit, a deusa que representa a abóbada celeste, deita-se sobre a terra, mas é erguida por Shu.
(2) Shu, o ar, separa o céu e a terra. Tanto ao seu lado direito, como o esquerdo, estão Heh, deidades com cabeça de carneiro.
(3) Geb, a terra, está deitado sobre o chão. Não raramente em cenas da criação do cosmo ele é representado tendo uma ereção, esperando manter o coito com Nuit.
(4) O Ba do falecido Butehamon assiste a cena com reverência.