Nas últimas semanas a profa. Lorena Mendonça Aleixo contou para mim sobre as atividades que estava realizando com os alunos dela, onde estava incluso uma sala temática sobre o Antigo Egito. Os seus relatos acerca das atividades são muito interessantes e podem servir como inspiração para outros educadores, então fiz um convite pedindo um Guest Post. A Lorena é graduada do Curso de Licenciatura em História da Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO) e Professora do Município de Rio Bonito e Município de Tanguá. Seu projeto foi realizado com as turmas do 6º ano (turmas A, B e C) da Escola Municipal Maurício Kopke, localizada no município de Rio Bonito-RJ. A atividade foi realizada no dia 05 de Julho de 2013 e nela os alunos puderam vivenciar fatos históricos, caracterizando-se de acordo com os personagens da época específica. A profa. teve o apoio da direção da Instituição de Ensino a Srª Lenita Carvalho da Silva e a Srª Franciane Lurdes Mendonça. Quem também tiver interesse em escrever um Guest Post é só enviar uma mensagem pelo formulário de contato. Abaixo confiram o texto:
INTRODUÇÃO
“Uma escola que tem História, sabe levar o aluno a construir a História de sua vida”.
Maurício Hanna Badr.
Ensinar História nos dias de hoje tem se tornado um verdadeiro desafio, pois em uma sociedade onde as crianças lêem cada vez menos, passam o dia jogando video-game, assistindo televisão e usando o Facebook, ensiná-los a importância da História e a construção de um pensamento crítico, muitas das vezes é frustrante. São raros os alunos que se interessam pelo estudo da História, pois, segundo eles, “é uma matéria chata que fala sobre coisas do passado onde a professora fala coisas difíceis, é necessário decorar textos enormes”.
Lecionar História não é copiar textos no quadro com linguajar rebuscado e no final da aula solicitar aos alunos que respondam a uma série de perguntas no qual se trabalha somente a capacidade de memorização e não o entendimento e o raciocínio crítico. Não queremos dizer que copiar textos no quadro não tenha sua importância, entretanto, o ensino-aprendizagem vai muito mais além do que isso, é necessário que o aluno vivencie e se interesse pelo que esta sendo ensinado, é preciso aguçar a curiosidade do aluno, trazer a História para a realidade deles, fazer com que os mesmos se sintam parte da História e vivenciem aquele momento como se estivessem na época dos Faraós, dos Reis e Rainhas, da Ditadura Militar, enfim, é necessário viver a História.
Aprender, portanto, não significa recitar um número cada vez maior de conceituações formais, mas elaborar modelos, articular conceitos de vários ramos da ciência, de modo a cada conhecimento apropriado pelo sujeito ampliar-lhe a rede de informações e lhe possibilitar tanto a atribuição de significados com o uso dos conceitos como instrumentos de pensamento. Enfim, a aprendizagem promove uma transformação cognitiva no individuo que envolve reflexão, análise e síntese, ou seja, o aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis de acontecer (Sforni e Galuch, 2006).
Através da experiência como professora de História do 6º ano, podemos perceber que a dificuldade em compreender a História aumenta nesta etapa, em comparação aos outros anos do Ensino Fundamental do segundo seguimento. Pois, é durante este período que a maturidade do aluno está sendo desenvolvida, juntamente com o seu conhecimento e capacidade de questionar. No conteúdo de História do 6º ano se trabalha Pré-História e História Antiga, conteúdos que, muitas das vezes, se torna distante demais do entendimento do aluno. Não basta somente explicar que na Pré-História o homem que era nômade tornou-se sedentário, é necessário que além do significado da palavra, o aluno entenda a razão do acontecido, ou seja, o que levou o homem a se tornar sedentário, o que mudou, e por que o aluno precisa saber isso.
Em virtude disto, usamos como estratégia, o método construtivista, passando a realizar encenações durante algumas das aulas, tentando trazer um pouco mais da vivência da história para os alunos. Assim, formatou-se a idéia de um Projeto. Quando esta idéia foi apresentada para a turma, os alunos mostraram-se entusiasmados e interessados rapidamente, dando inicio ao “Projeto Sala Egípcia”. Uma Sala Temática sobre o Egito Antigo, no qual os alunos seriam os personagens principais deste evento.
O Egito Antigo está muito mais disseminado no imaginário popular, seja por conta dos filmes como, por exemplo, “A Múmia”, “Moisés: O Príncipe do Egito”, entre outros, ou até mesmo por conta de todo o esoterismo que ele atrai e através de vídeos games, podendo ir muito mais além. Ao participar do Projeto, os alunos puderam aprender muito mais sobre o Egito Antigo de uma maneira lúdica e divertida.
Consideramos como uma experiência efetiva e gratificante, pois o objetivo em trazer a História para a vida dos alunos além da vivência deste momento foi alcançado. Vale à pena ressaltar, que alunos de outras turmas de diferentes seguimentos também tiveram contato com a “atmosfera egípcia” onde puderam interagir, tornando-se personagens, como se não estivessem mais em uma sala de aula, e sim no Antigo Egito as margens do Rio Nilo.
OBJETIVO GERAL
Nosso maior objetivo como educador é incentivar a criança a gostar de História, a entender que é um direito de todo o ser humano ter acesso a informação. Além disso, ao instigar a curiosidade dos alunos, vemos que eles buscam mais informações na internet assim como em livros e através dos questionamentos realizados aos pais e aos professores. Acabamos por atuar como agentes catalizadores de motivação e interesse por História e pelas demais disciplinas.
ESPECÍFICOS
Levar os alunos a vivenciar a partir de encenações, fatos históricos de diversas épocas.
Buscar através de caracterizações de personagens históricos a interação do aluno no processo ensino-aprendizagem.
Contribuir de maneira efetiva para o ensino-aprendizagem dos alunos utilizando o método construtivista.
METODOLOGIA
Para a realização do referido projeto, tivemos como metodologia a utilização do Método Construtivista, por considerar ser uma estratégia que auxilia sobremaneira o ensino-aprendizagem, além de colaborar na integração e sociabilização dos alunos.
Os trajes foram confeccionados tendo como referência, pesquisa realizada na Internet pelos alunos participantes do Projeto.
RESULTADO
Para a realização deste Projeto os alunos se dividiram em grupos, onde cada grupo tinha uma função importante na realização do evento, havendo uma interdependência entre eles.
O primeiro grupo de alunos representou a sociedade egípcia, sendo trajados de Faraó, Esposa Real, Servo, Escravo, Militar, Escriba e Sacerdote. O segundo grupo, representando a riqueza da religião egípcia, caracterizaram-se de Deusa Maat (a Deusa do Equilíbrio e Justiça) e a Deusa Ísis (Esposa do Deus Osíris, deusa da maternidade e fertilidade), além de mais duas alunas, uma que representou os Rituais Fúnebres caracterizada de Múmia, e outra representando a cultura através da arte da música e dança, trajada de dançarina egípcia. Os trajes foram confeccionados de TNT e EVA, e os demais adereços como coroas e braceletes foram feitos de cartolina e papel laminado, o cetro, chicote e lança foram confeccionados com cano de PVC envolvidos com fita dupla-face e papel laminado, somente a espada do militar que foi feita de madeira trabalhada e envolvida com o papel laminado e durex.
A “Sala Egípcia” foi montada no refeitório da escola e transformada numa sala improvisada com uma imensa cortina para separar os ambientes, dentro desta sala foram montadas estandes com diversos materiais, onde cada grupo de alunos era responsável pelo seu setor, informando e ensinando que se aproximasse para observar os trabalhos expostos.
Em uma dessas estantes havia livros didáticos, “pop-up” de literatura sobre o Egito Antigo, além de revistas. Todo material exposto estava disponível para ser manuseado e examinado por todos que visitavam a exposição.
Também foram confeccionados pelos alunos estatuetas de argila para representar os Shauabtis (estatueta funerária egípcia de aspecto mumiforme, designada a substituir o falecido na execução dos trabalhos agrícolas após a morte), material que ficou exposto e um grupo de alunos disponível para tirar dúvidas dos curiosos que se aproximavam deste estante.
Outro grupo de alunos ficou responsável pela confecção das vestimentas egípcias, onde bonecos foram vestidos com roupinhas feitas de restos de tecido e paetês pelos próprios alunos (com uma ajuda especial dos pais e avós) e expostos na Sala.
O mini-museu foi montado com os trabalhos realizados pelos alunos e pelos materiais que eu mesma levei (fotos, papiros, amuletos, panos e estatuetas).
Os alunos se maquiavam como egípcios e apresentavam o trabalho para as turmas que chegavam na sala para visitar a exposição, cada aluno que visitava esta estande além de se informar sobre as técnicas de maquiagem egípcia, também tinha os seus olhos e rostos pintados pelos alunos responsáveis por este setor da Sala. O material utilizado pelos alunos foi lápis de olho, delineadores, batom e sombras.
Além dos cartazes de trabalhos sobre o Egito Antigo, Mumificação e Deuses Egípcios expostos nas paredes da sala, também foram expostas maquetes das Pirâmides de Gizé na entrada da Sala Egípcia.
Alguns alunos que não estavam participando dos estandes e nem estavam trajados, atuaram como monitores da Sala Egípcia, cuidando da iluminação da sala, do som, da localização dos alunos trajados, da organização dos estandes e dos demais alunos que visitavam a sala, enfim, colaboraram para uma perfeita organização e funcionamento da Sala Egípcia.
Todo o material necessário para a realização deste Projeto foi fornecido pela Escola Municipal Maurício Kopke e pelas Diretoras Srª Lenita Carvalho da Silva e Srª Franciane Lurdes Mendonça que foram de fundamental importância para a realização deste Projeto.
Não houve um aluno que não se surpreendeu ao entrar na sala egípcia, as janelas foram tapadas com cartolina preta e a luz ficou apagada, apenas a luz de um abajur dava o clima de mistério e aguçava a curiosidade, o som ficava ligado tocando músicas egípcias e um leve aroma de incenso pairava no ar, o visitante da Sala Egípcia logo que entrava era recepcionado pelas Deusas Ísis e Maat, que guardavam os portais da Sala Egípcia, logo em seguida se deparava com uma múmia repousando no meio da sala sob o olhar vigilante do Sacerdote, ao lado o Faraó acompanhado de sua Esposa Real, seu Servo, Militar, Escriba e Escrava observavam os visitantes que por alí passavam em direção os estandes, onde podia-se observar os inúmeros trabalhos expostos nas paredes e nas mesas, bem como a Biblioteca do Egito, onde o visitante poderia ler e manusear as obras, observar as peças egípcias no Mini-Museu e admirar os Shauabtis feitos de argila. Monitores atentos a todo o instante, prontos e capacitados para tirar qualquer dúvida dos visitantes acerca dos materiais expostos. No final da exposição uma dançarina egípcia dança ao som ambiente que impregnava magicamente a Sala com a atmosfera egípcia. Ao lado uma equipe de alunas maquiavam os visitantes com a maquiagem egípcia, além de ensiná-los as técnicas e a história por trás deste costume. Na televisão passava ininterruptamente documentários sobre o Egito Antigo, e no computador tocava a música egípcia acompanhado de belíssimas imagens (vídeos extraídos do youtube), no final da sala, ao sair, o visitante mais uma vez era cumprimentado pelas Deusas e guiado pelos monitores.
O “Projeto Sala Egípcia” não só despertou a paixão pelo Egito Antigo, como também por todos aqueles que a visitaram. Todos os alunos participaram voluntariamente e foram fundamentais para o sucesso deste Projeto, assim como os pais que visitaram a sala, prestigiando seus filhos e a direção da Escola que foi de grande apoio e incentivo para a realização do Projeto.
A Sala Egípcia aconteceu no dia 05 de Julho de 2013, tendo início às 9 horas e término às 16 horas (com intervalos). Todas as turmas da Escola Municipal Maurício Kopke visitaram a exposição, assim como alguns pais de alunos, demais funcionários da escola e coordenadores do município, que ficaram encantados com o Projeto e a competência dos alunos do 6º ano ao executá-lo.
CONCLUSÃO
Através deste Projeto, foi possível despertar a paixão e a curiosidade pela História, em especial pelo Egito Antigo. Os alunos passaram a gostar mais de História, se tornaram mais participativos em sala de aula, podemos observar inclusive, uma sensível melhora no aproveitamento dos alunos participantes. Sabemos que este Projeto ficará para sempre registrado na mente destes alunos, contribuindo para que haja um grande diferencial no futuro e na formação dos mesmos. Sendo extensivos também aos demais alunos que visitaram a Sala Egípcia.
Isto foi percebido claramente em alguns depoimentos de alunos que participaram do Projeto, como poderemos observar logo abaixo.
“Eu gostei da Sala Egípcia que retratou bem o Egito que é um dos lugares que eu gostaria de conhecer!(…)”. (Dâmaris – 11 anos)
“Eu amei a Sala Egípcia, é educativa e divertida. Eu amei quando eu fui a rainha”. (Helena – 11 anos).
“Eu gostei da Sala Egípcia por que foi muito legal e eu aprendi um monte de coisas legais e interessantes. Eu vi a dançarina e também gostei quando as crianças entraram na Sala Egípcia para ver as coisas e se maquiar. Foi a melhor coisa que eu já fiz na Escola toda! (Ludmila – 12 anos)
“Eu adorei a Sala Egípcia por que eu fui a Deusa Maat(…)”. (Edielli – 11 anos).
“Eu gostei muito da Sala Egípcia, foi bom para avaliar a capacidade de cada um. A parte que eu mais gostei foi quando a múmia levantou e as crianças menores morreram de medo(…)”. (Aline – 11 anos)
“O que eu mais gostei foi do faraó e seus criados, servo, serva, escravo, escriba, militar e muito mais. Achei realista e muitos também acharam bem feito.” (Maria Pilar – 11 anos)
“Eu gostei de muitas coisas: a múmia, os trabalhos, a Deuses, as pessoas fantasiadas. Porque eu gostei por causa do trabalho em equipe, eu pude interagir.” (Lucas – 12 anos)
“Eu gostei da Sala Egípcia porque eu achei muito legal e também por participar e colaborando com o que era os Shabbits, explicando para quem não sabia o que era e eu até tinha ficado muito interessada. Eu adoro minha professora Lorena, porque ela explica muito bem e isso me faz ficar mais interessada pela História.”(Kássia – 11 anos)
“Sim, gostei muito, pois consegui aprender melhor sobre o Egito e me diverti muito. Agora se alguém perguntar eu saberei bastante sobre o Egito.”(Sylviane – 12 anos)
“Eu gostei da Sala Egípcia, por que tava muito legal e também por que minha mãe, meu pai e meu irmão estavam lá. O que eu mais gostei foi a decoração.”( Thalia – 11 anos)
A partir dos depoimentos podemos perceber o quanto a participação dos alunos neste Projeto foi importante para a construção do ensino-aprendizagem.
Vale a pena mencionar, a importância da participação dos pais para a construção do ensino-aprendizagem, considerando que esta interação entre a escola e os pais, certamente contribuirá efetivamente para que estes alunos que possuem a orientação, carinho e apoio em casa e na escola vislumbrem um futuro brilhante.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SFORNI, M. S. F. GALUCH, M.T. B. Aprendizagem conceitual nas séries iniciais do ensino fundamental. Educar, Curitiba, n. 28, p. 117-229, 2006.
Sites:
Wikipédia, enciclopédia virtual, http://pt.wikipedia.org/wiki/aprendizagem, acessado em 29 de junho de 2013
http://www.smartkids.com.br/especiais/egito-antigo.html , acessado em 29 de junho de 2013
http://antigoegito.org/antigo-egito-para-as-criancas-2/ ,acessado em 01 de julho de 2013
http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=8960, acessado em 01 de julho de 2013