Por Márcia Jamille | @MJamille | Instagram
Heródoto foi um viajante e pesquisador grego que visitou o Egito durante o século 5 a.E.C. Foi dele de onde saiu uma das frases mais emblemáticas sobre o país: “O Egito é uma dádiva do Nilo”. Entretanto, embora seja um dos principais referenciais no que diz respeito ao registro da vida na Antiguidade, Heródoto já foi assumido — e com razão — por muitos historiadores e arqueólogos como alguém pouco confiável, uma vez que os seus textos não raramente tendem para a fantasia.
Imagem: G Nimatallah/De Agostini/Getty Images
Porém, recentemente foi anunciada para a imprensa que no Egito ocorreu a descoberta de um meio de transporte que foi citado em sua obra “Histórias”, mas que até então não tinha sido encontrado: trata-se de uma embarcação de carga. Ela foi descoberta durante uma escavação arqueológica submersa na antiga área portuária de Thonis-Heracleion, próximo de Alexandria.
Thonis-Heracleion foi uma antiga cidade portuária que acabou ficando submersa graças a uma série de desastres naturais. Ela, ao lado de Alexandria, tem rendido uma série de importantes descobertas arqueológicas acerca do Período Greco-Romano.
“Foi só quando descobrimos esse naufrágio que percebemos que Heródoto estava certo”, disse Damian Robinson, diretor do Centro de Arqueologia Marítima de Oxford, que publicou uma monografia recente detalhando o achado. E complementou “O que Heródoto descreveu foi o que estávamos olhando”.
No seu livro “Histórias”, Heródoto descreve a construção de um cargueiro do Nilo. Em seu relato ele fala da criação de barcos de “acácia espinhosa” (espinheiro) que “dada a forte correnteza, não podem subir o rio, a menos que sejam impelidos por forte vento”.
Imagem: Christoph Gerigk/Franck Goddio/Hilti Foundation.
Ele relatou que os construtores “do espinheiro tiram pranchas de dois côvados de comprimento [1], que ajustam umas às outras, da mesma maneira por que arrumam os tijolos [2], prendendo-as com cavilhas fortes e longas. Colocam depois as vigas, sem se servirem de cavernas, consolidando o arcabouço pelo lado de dentro com ligas de biblos [3]”.
Imagem: Christoph Gerigk/Franck Goddio/Hilti Foundation.
A embarcação naufragada recebeu o nome de “Embarcação 17”. É feita com acácia e de acordo com as análises provavelmente possuía uns 92 pés. Os pesquisadores responsáveis pela descoberta explicam que ela foi construída em algum momento no século 6 a.E.C, mas que naufragou no século 5 a.E.C.
Alexander Belov, autor do livro “Ship 17: a Baris from Thonis-Heracleion”, é ousado em uma de suas colocações afirmando que a arquitetura náutica do naufrágio está tão próxima da descrição de Heródoto que poderia ter sido feita no próprio estaleiro que ele visitou.
Cargueiros para blocos de pedra:
Embora a “Embarcação 17” provavelmente tenha sido utilizada para transportar grandes mercadorias a exemplos de sacas de grãos. Na iconografia egípcia de tempos anteriores a esta descoberta podemos ver embarcações transportando coisas ainda maiores e mais pesadas, tais como blocos de pedra. Um ótimo exemplo é a embarcação retratada na tumba de um homem chamado Ipi (5ª Dinastia), localizada em Saqqara.
— Veja também: Importantes descobertas de embarcações em tumbas egípcias
A Arqueologia Subaquática:
No nosso canal possuímos um vídeo explicando como se dá uma pesquisa arqueológica subaquática, dificuldades e oportunidades de trabalho:
Fontes:
Wreck of Unusual Ship Described by Herodotus Recovered From Nile Delta. Acesso em < https://www.smithsonianmag.com/smart-news/wreck-unusual-ship-described-herodotus-recovered-nile-delta-180971762/ >. Disponível em 12 de abril de 2019.
Nile shipwreck discovery proves Herodotus right – after 2,469 years. Acesso em < https://www.theguardian.com/science/2019/mar/17/nile-shipwreck-herodotus-archaeologists-thonis-heraclion >. Disponível em 12 de abril de 2019.
Livro “Histórias” de Heródoto.
[1] cerca de 100 cm.
[2] as organizam como tijolos.
[3] papiro.