Arqueólogos Encontraram 13 Línguas de Ouro Entre Múmias Egípcias

Foi anunciado recentemente que, durante escavações arqueológicas em Al-Bahnasa (antiga Oxyrhynchus), Minya, uma missão conjunta entre pesquisadores egípcios (Universidade do Cairo) e espanhóis (Universidade de Barcelona e Instituto do Antigo Oriente Próximo) descobriu uma série de tumbas datadas do Período Ptolomaico (304–30 a.C.), época da antiguidade egípcia em que faraós de origem grega governaram o país.

No geral, as tumbas estão decoradas com inscrições e ilustrações coloridas retratando cenas da vida após a morte e de divindades. A qualidade e o frescor das cores impressionaram os especialistas. Segundo o egiptólogo Francesco Tiradritti, que não faz parte da equipe responsável pela descoberta, “a excelência da pintura e a vivacidade das cores são simplesmente extraordinárias”.

Imagens de embarcação representada em parede de tumba em Oxyrhynchus. Foto: Ministério de Turismo e Antiguidades do Egito.

Em uma dessas tumbas, o nome do dono foi preservado: tratava-se de “Wen-Nefer”, que provavelmente foi sepultado com sua família. Sua tumba foi adornada com imagens de deuses como Anúbis, Osíris, Atum, Hórus e Thoth. O detalhe mais fascinante, porém, está no teto, que foi decorado com uma representação da deusa Nut. Infelizmente, ainda não há uma fotografia completa disponível, mas é possível ver parte da ilustração, composta por estrelas e deuses navegando em uma vasta imensidão azul. A própria Nut foi representada com uma peruca semelhante às usadas pela deusa Hathor e com o rosto de frente, algo raro na arte egípcia, que geralmente retratava figuras de perfil.

Imagem da deusa Nut representada e parede de tumba em Oxyrhynchus. Foto: Ministério de Turismo e Antiguidades do Egito.

Já em uma tumba vizinha, composta por um poço que leva a câmaras funerárias, foram encontrados diversos corpos. De acordo com Esther Pons Mellado, co-líder da equipe espanhola, “as câmaras estavam cheias de dezenas de múmias, cuidadosamente dispostas lado a lado, indicando sepultamentos comunitários”.

Línguas e Unhas de Ouro
O detalhe mais intrigante dessa descoberta, no entanto, vem agora: foram encontradas línguas e unhas de ouro. Ainda não foi esclarecido em que contexto essas línguas estavam – se dentro de múmias intactas (o que exigiria exames como tomografia para serem vistas) ou em restos esqueletizados.

13 línguas de ouro foram encontradas entre múmias egípcias em Oxyrhynchus. Foto: Ministério de Turismo e Antiguidades do Egito.

Ao todo, 13 línguas de ouro foram desenterradas. Os antigos egípcios acreditavam que essas línguas ajudariam os mortos a “falar” no além, permitindo-lhes comunicar-se com os deuses e serem bem recebidos no outro mundo. O ouro, considerado “a carne dos deuses”, tinha um poderoso significado simbólico, diretamente associado à divindade e à eternidade.

Essa não é a primeira vez que línguas de ouro são encontradas em Oxyrhynchus. Descobertas anteriores revelaram 16 línguas de ouro, indicando que essa prática pode ter sido comum na região ou ligada a tradições específicas da elite local. Porém, é importante salientar que este tipo de artefato já foi encontrado em outros sepultamentos egípcios de uma outra localidade, no caso Taposiris Magna, local onde, há alguns anos, a arqueóloga Kathleen Martinez tem procurado pela tumba da rainha Cleópatra VII.

Amuletos com Significado Ritual

Além das línguas de ouro, a equipe encontrou 29 amuletos junto às múmias. Entre eles:

  • Escaravelhos, que simbolizavam o movimento do sol e a regeneração;
  • Representações de deuses egípcios, como Hórus, Thot e Ísis;
  • Amuletos híbridos, combinando elementos de várias divindades.
Cerca de 29 amuletos foram encontrados em tumba na antiga Oxyrhynchus. Foto: Ministério de Turismo e Antiguidades do Egito.

Esses objetos não eram apenas decorativos. Cada amuleto tinha um significado ritualístico, fornecendo proteção e orientação na jornada para o além.

Quem Eram Essas Múmias?

Embora a identidade das múmias ainda seja um mistério, a presença das línguas de ouro e dos itens funerários elaborados sugere que pertenciam à elite local, possivelmente com vínculos a templos ou cultos religiosos. Outra hipótese é que a prática das línguas de ouro fosse característica específica das técnicas de embalsamamento na região de Oxyrhynchus, embora, como já salientei, estejam presentes também em Taposiris Magna.

 

Fontes:

EL-AREF, Nevine. Gold tongues and nails and distinguished ritual scenes revealed the secrets of Al-Bahnasa site in Minya. Disponível em: https://english.ahram.org.eg/NewsContent/9/41/536957/Antiquities/GrecoRoman/Gold-tongues-and-nails-and-distinguished-ritual-sc.aspx. Acesso em: 18 dez. 2024.

JARUS, Owen. 13 ancient Egyptian mummies found with gold tongues to help them talk in the afterlife. Disponível em: https://www.livescience.com/archaeology/ancient-egyptians/13-ancient-egyptian-mummies-found-with-gold-tongues-to-help-them-talk-in-the-afterlife. Acesso em: 18 dez. 2024.