Pesquisadores de diferentes instituições se uniram através do projeto ScanPyramids para conduzir um estudo voltado à investigação da face leste da Pirâmide de Menkaure (Miquerinos, em grego), no platô de Gizé, com o objetivo de identificar possíveis espaços internos ocultos atrás do revestimento de blocos de granito. A pesquisa foi publicada em artigo científico e empregou exclusivamente técnicas não destrutivas, preservando a integridade do monumento.

Menkaure foi um faraó da IV Dinastia do Antigo Reino, há cerca de 4.500 anos, período marcado pelo auge da construção de pirâmides no Egito. Sua pirâmide, originalmente chamada de “Menkaure é Divino”, é a menor das três grandes pirâmides de Gizé, com cerca de 65 metros de altura e base aproximada de 102 × 104 metros.
Originalmente o projeto arquitetônico esperava revestir o monumento com granito vermelho, uma matéria prima advinda de Assuã, no entanto, hoje, apenas algumas fileiras de granito permanecem preservadas na base da pirâmide, indicando que o monumento não foi concluído conforme o projeto original. Evidências arquitetônicas também sugerem que o interior da pirâmide também passou por alterações em sua planta durante a construção.

E foi esse histórico de mudanças em seu projeto de construção que levou os pesquisadores a investigarem o interior da pirâmide em busca de anomalias que possam indicar mais detalhes arquitetônicos até então desconhecidos. Porém o detalhe adicional dessa história foi o foco deles na face leste da pirâmide. Esse local foi escolhido porque apresenta semelhanças no revestimento de granito com a face norte, onde se localiza a entrada conhecida do monumento. Essa similaridade, apontada inicialmente por um entusiasta da arqueologia chamado Stijn van den Hoven, gerou a hipótese de que a face leste poderia um acesso alternativo que jamais foi finalizado ou utilizado.

E para testar essa hipótese, a equipe empregou três métodos científicos complementares, todos amplamente utilizados em arqueologia para análises não invasivas:
- Tomografia de Resistividade Elétrica (ERT)
Que mede a forma como a corrente elétrica se propaga através dos materiais, permitindo identificar diferenças entre rocha sólida e vazios. - Radar de Penetração no Solo (GPR)
Emite ondas eletromagnéticas que retornam ao encontrar interfaces internas, como cavidades ou mudanças de densidade. - Teste Ultrassônico (UST)
Utiliza ondas ultrassônicas para detectar descontinuidades internas nas estruturas.
Os dados obtidos foram integrados por meio de modelagens e reconstruções 3D, o que permitiu cruzar os resultados das diferentes técnicas, compensar limitações individuais e melhorar a interpretação espacial das anomalias detectadas.
O que aconteceu foi que esta junção de ferramentas acabou revelando a presença de duas anomalias localizadas atrás do revestimento de granito, inseridas na camada de calcário da estrutura. Mais detalhes sobre elas:
- Anomalia A1
Aproximadamente 1,5 m × 1,0 m, localizada a cerca de 1,3 m de profundidade, posicionada atrás de um bloco de granito de formato trapezoidal. - Anomalia A2
Menor, com cerca de 1,0 m × 0,7 m.
As simulações indicam que ambas são provavelmente cavidades preenchidas por ar, e não simples variações naturais da rocha. A fusão dos dados em 3D permitiu estimar com relativa precisão sua posição, tamanho e inclinação, embora a extensão total dessas cavidades ainda seja desconhecida.

Ok! É fato que existe algo por trás das pedras de granito da Pirâmide de Menkaure, porém, a função destes espaços permanece em aberto. Na melhor das hipóteses eles podem estar relacionados a mudanças no projeto durante a construção, na pior, trata-se de algum erro arquitetônico.
E na minha opinião, a sua localização na face leste é particularmente relevante, já que, do ponto de vista simbólico e funerário, o norte e o oeste costumam ser as direções mais associadas ao mundo dos mortos no Egito Antigo. Caso essas cavidades tenham sido intencionais, sua posição levanta novas questões sobre escolhas arquitetônicas e simbólicas no final da IV Dinastia.
Por isso, pesquisas futuras serão essenciais para compreender a extensão, a função e o significado dessas cavidades. E a nós? O que nos resta é esperar!
Fonte:
Detection of two anomalies behind the Eastern face of the Menkaure Pyramid using a combination of non-destructive testing techniques. Disponível em < https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S096386952500012X?via%3Dihub >. Acesso em 9 de dezembro de 2025.
