Por Márcia Jamille Costa | @MJamille | Instagram
O Museu Egípcio no Cairo (Egito) contém a mais prestigiosa coleção de artefatos egípcios do país. Sua fundação foi inspirada pelas centenas de descobertas arqueológicas datadas dos tempos dos faraós que ocorreram no século XIX, ao lado da ausência de um bom lugar para armazenar as peças coletadas (EINAUDI, 2009).
Inaugurado em 1902 (EINAUDI, 2009), por quase doze décadas o museu tem recebido artefatos catalogados em diferentes línguas, retirados dos seus sítios de origem por arqueólogos de distintas épocas. Assim, em poucos anos o porão do edifício começou a ficar abarrotado com peças arqueológicas dos mais variados períodos, algumas até fora do seu contexto. E o que era para parecer com uma reserva técnica — local onde nós arqueólogos e os museólogos armazenamos as peças analisadas e catalogadas —, atualmente se assemelha com um depósito empoeirado com artefatos fragilizados e com etiquetas bagunçadas escritas em árabe, francês ou inglês [1].
Foto: Ministério das Antiguidades do Egito
As condições de armazenamento precário dos objetos nesse espaço já foi motivo de críticas em outros anos. Alguns não se sabe a procedência, outros há anos não foram tocados por um especialista. Esse enorme problema é um dos motivos da inauguração do Grande Museu Egípcio, o qual receberá a maior parte da sua coleção [1].
Pequena parte do porão mostrado na série Chasing Mummies: The Amazing Adventures de Zahi Hawass (2010), da The History Channel.
Outra medida foi anunciada em janeiro deste ano (2017): A direção do museu prometeu retirar de lá 600 ataúdes de madeira. “Estamos ansiosos para começar a tarefa. Nós esperamos por ótimos resultados”, declarou ao jornal El Mundo o chefe de curadoria Moamen Othman, “Tem caixões que vêm principalmente de escavações arqueológicas. Eles são de diferentes idades e origens, o que torna este um projeto muito emocionante”[1].
Foto: Ministério das Antiguidades do Egito
A retirada será realizada por uma equipe multidisciplinar composta por 35 pessoas, além de peritos dos EUA, Reino Unido e Itália [1].
O restaurador que retirou uma cola epóxi da barba de Tutankhamon — posta lá de forma negligente em 2014 — também participará da equipe: “Nós vamos primeiro nos concentrar na documentação e conservação dos caixões. É um desafio enorme porque nós iremos fotografar e investigar cada um dos sarcófagos” e complementou “Todo mundo vai desfrutar de documentos de estudo completos, mas a restauração vai afetar apenas de 15 a 20 caixões” [1].
Muitos dos artefatos estão frágeis. “Há milhares de objetos no porão. Não temos um número exato”, explicou Othman.
Moamen Ozman apresentando o projeto. Foto: Francisco Carrión
“Os caixões, uma vez restaurados e catalogados, estarão disponíveis para pesquisadores e para o público em geral. É uma coisa maravilhosa, porque significa que pessoas de todo o mundo podem descobrir e apreciar este património”, declarou Martin Perschler, diretor do fundo que paga esta missão, o Fundo para a Preservação Cultural, que se trata de um programa dos EUA. “Uma das preocupações é o ambiente em que os sarcófagos estão. Uma transferência imediata para outro lugar poderia ter um efeito negativo sobre a sua preservação”, concluiu [1].
As condições do porão também serão investigadas, para saber se existe algum perigo estrutural[1].
Referências bibliográficas:
En busca de los tesoros ocultos en el sótano del Museo Egipcio de El Cairo. Disponível em < http://www.elmundo.es/ciencia/2017/01/17/587e00dee5fdea19078b4598.html >. Acesso em 03 de março de 2017.
EINAUDI, Silvia. Coleção Grandes Museus do Mundo: Museu Egípcio Cairo (Tradução de Lúcia Amélia Fernandez Baz). 1º Título. Rio de Janeiro: Folha de São Paulo, 2009.