Por Márcia Jamille Costa | @MJamille
No dia 26/05 (2013) viralizou na internet o caso de um ato de vandalismo em Luxor. Alguém chamado Ding Jinhao escreveu em um baixo relevo os dizeres em mandarim “Ding Jinhao esteve aqui”, despertando a revolta de milhares de internautas, especialmente entre os egípcios e chineses.
O caso foi a público depois que uma fotografia do ato foi publicada por um chinês envergonhado na internet. Imediatamente a mídia identificou o infrator como um adolescente de 15 anos da província de Nanjing. Depois do escândalo, os pais do garoto emitiram um comunicado para a imprensa. “Nós queremos nos desculpar com o povo do Egito e com o povo de toda a China”, disse a mãe.
De acordo com a matéria do Egyptian Streets, blogueiros chineses postaram que a marca branca na assinatura de Ding é o resultado da tentativa de turistas chineses em apagar as inscrições.
O Ministério das Antiguidades ainda não lançou um comunicado oficial sobre o assunto, nem deu declarações se a imagem, que se localiza no Santuário de Amon construído por Alexandre Magno (356 – 323 a. E.C), poderá ser restaurada.
Embora tenha sido um ato chocante, especialmente devido a antiguidade das paredes e sua relevância para a história da politica na antiguidade, casos de depredações proporcionados por turistas não é incomum, afinal, todos querem um pedaço da história, seja rasurando paredes ou pegando peças de cerâmicas do chão do sítios, e estes são só dois simples exemplos. Para variar este incidente demonstrou mais uma vez não só a falta de segurança nos sítios, mas a ausência de zelo por parte dos próprios turistas. O caso do garoto Ding Jinhao não foi o único, nem isolado. No início do ano turistas russos, aproveitando o recolhimento dos guardas de turismo e escalaram uma das pirâmides do platô de Giza para tirar fotos. As fotografias rodaram o mundo e eles foram tratados em parte como heróis, independente do risco que infringiram a própria vida e ao desrespeito as determinações de segurança geradas para o patrimônio arqueológico egípcio. Hoje fala-se mais das fotografias tiradas, mas pouco se comenta acerca do pedido de desculpas por terem subido em um Patrimônio da Humanidade de forma tão inconsequente.
Ontem (26/05) também rodou pelo Facebook o anuncio da demolição de um dos últimos portões do Velho Cairo, o Bab Al Wazir, construído no início do século 19. O motivo? A construção de um novo prédio a mando da neta do Sheikh Abdel Rahman Kara’a, responsável pela construção do edifico ao qual pertencia o portão. Porém, ser herdeira do construtor daria mesmo a ela o direito de destruição de um patrimônio arqueológico? O Bab Al Wazir não constava no registro de edifícios históricos do Egito, mas não temos sempre que depender do governo para enxergar o que é patrimônio arqueológico ou não.
No final de 2012 outro problema relacionado com a derrubada de edifícios arqueológicos para a construção de edifícios foi levantado entre arqueólogos, porém, aparentemente não caiu na mídia (se ocorreu não vi): Existe um baixo relevo de Akhenaton, Aton e Amenhotep III em Assuão. Ele pertenceu a um escultor chamado Bek e estava para ser retirado do seu lugar original para ser posto em um museu na Núbia ou no Grand Museum ASAP. Este não é um caso de vandalismo ou destruição, mas a necessidade de retirar este artefato do seu lugar original já deve ser levada a debate. Não sei informar o status da obra.
Outro caso que fiquei sabendo foi no final de 2011 e tem relação com a frequente deterioração da cabeça de um colosso de Ramsés II em el-Hawawish (Akhmim). Além de ter sido coberta por lixo e cascalho, os homens locais estavam urinando nela. Observe a diferença das datas nas legendas das fotos. Atualmente também não sei informar como está a situação deste artefato.
Observando o caso de Ding e os demais é possível notar que esquecemos de observar a Arqueologia Egípcia de uma forma mais ampla, levando para as nossas discussões a falta de tato não só de parte da população egípcia, mas também mundial em relação ao Patrimônio Arqueológico. Muito se fala acerca da necessidade de proteção tanto aos sítios como os artefatos, mas pouco está sendo feito.
Update – 29 de maio de 2013
Hoje saiu uma nova notícia acerca do ocorrido: foi anunciada a remoção do grafite. Para saber mais clique aqui.
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Mais um exemplo de vandalismo em sítios arqueológicos egípcios. Esta fotografia é de Gizé em 2009:
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De acordo com esta matéria do Ahram Online (12 de maio de 2013) a cabeça de Ramsés II de Akhmim e os demais artefatos encontrados na região foram removidos e armazenados em um local seguro.
Fontes:
Chinese Tourist Damages 3000-Year-Old Temple in Luxor. Disponível em < http://egyptianstreets.com/2013/05/26/chinese-tourist-damages-3000-year-old-temple-in-luxor/ >. Acesso em 27 de maio de 2013.
Bab Al Wazir historic gate of Cairo bulldozed. Disponível em < http://en.aswatmasriya.com/news/view.aspx?id=045da4c1-7257-429e-81b4-c8a477e515d3 >. Acesso em 27 de maio de 2013.
«Caza virtual» a un adolescente chino que hizo una pintada en Luxor. Disponível em < http://www.abc.es/cultura/20130527/abci-pintada-luxor-chino-201305270951.html >. Acesso em 27 de maio de 2013.
Padres de adolescente se disculpan por vandalismo. Disponível em < http://spanish.people.com.cn/92122/8259617.html >. Acesso em 27 de maio de 2013.
Teenager’s parents apologise after he vandalises ancient Egyptian artwork. Disponível em < http://metro.co.uk/2013/05/27/teenagers-parents-apologise-after-he-vandalises-ancient-egyptian-drawings-3809918/ >. Acesso em 27 de maio de 2013.
Chinese Tourist Vandalizes Egyptian Temple, Pisses Off China. Disponível em < http://www.gadling.com/2013/05/26/chinese-tourist-vandalizes-egyptian-temple-pisses-off-china/ >. Acesso em 27 de maio de 2013.
Save our heritage , Save our history for God sake “Updated With Photos and Info”. Disponível em < http://egyptianchronicles.blogspot.com.br/2013/05/save-our-heritage-save-our-history-for.html >. Acesso em 27 de maio de 2013.