(Guest Post) Oficina sobre o Antigo Egito para Crianças

Convidei a Beatriz Moreira, um dos membros do grupo de estudo Gekemet e estudante de História para escrever um post contando como foi a experiência dela realizando uma oficina de educação sobre o Antigo Egito para crianças. Ela não somente aceitou na hora como o fez no mesmo dia. Quem também tiver interesse em escrever um Guest Post é só enviar uma mensagem pelo formulário de contato. No texto a seguir ela discorre os principais acontecimentos da oficina e suas reflexões acerca das atividades realizadas:

Olá, queridos leitores do Arqueologia Egípcia.
Meu nome é Beatriz Moreira, faço parte do Grupo de Estudos Kemet do Laboratório de História Antiga (LHIA) / UFRJ e sou leitora assídua do Arqueologia Egípcia. A queridíssima Márcia Jamille me convidou para escrever aqui no site sobre uma ótima experiência pela qual passei no dia 30 de maio de 2014: a realização de uma oficina pedagógica – intitulada “Indo além de Indiana Jones & Lara Croft: a Arqueologia do século XXI” – no Museu Nacional (MN) / UFRJ (FOTO 1), cujos principais objetivos foram apresentar o trabalho de um arqueólogo e expor características funerárias da religião egípcia para crianças do 6º ano do Ensino Fundamental.

FOTO 1: Beatriz Moreira, coordenadora da oficina “Indo além de Indiana Jones & Lara Croft: a Arqueologia do século XXI”. Foto: Célia Palacios. Maio de 2014.

Para tanto, foi formada uma equipe (FOTO 2):

FOTO 2: Em pé, da esquerda para direita: Professoras. Céli Palacios e Regina Bustamante, licenciandas Beatriz Moreira (bolsista PIBIC), Natália Seixas e Geórgia Albuquerque (bolsista PIBIC). Abaixados: Prof. João Luiz Corrêa Gomes e licencianda Luisa Tavares (bolsista PIBIC). Foto: Equipe de Filmagem da Oficina. maio de 2014.

Houve a orientação de Regina Bustamante (professora de História Antiga na UFRJ) e Céli Palacios (professora de Teatro da Escola Britânica do Rio de Janeiro). Como equipe de apoio, tivemos a colaboração de colegas do Curso de História da UFRJ (Natália Seixas, Luisa Tavares e Geórgia Albuquerque) e também do Prof. João Luiz Corrêa Gomes. A compra do material da oficina foi financiada pelo Programa de Consolidação das Licenciaturas da CAPES (PRODOCÊNCIA).
O trabalho de elaboração da oficina foi gratificante, pois como bolsista de Iniciação Científica da Profª Regina Bustamante, participo de disciplinas eletivas ministradas pela referida docente na UFRJ – onde curso História –, cujo produto final de cada período é a criação de uma oficina pedagógica a partir do acervo do Museu Nacional. Com esta atividade, objetiva-se tornar a cultura material da Antiguidade, exposta em museus cariocas, mais acessível a professores e estudantes da Educação Básica, propiciando maior efetividade na interação Museu-Escola através da mobilização de conhecimentos acadêmicos para a produção de um saber histórico escolar.
A oficina pedagógica em questão foi elaborada em 2013 com o intuito de ressignificar a exposição de Egito Antigo do Museu Nacional. E, após a realização, posso afirmar que, de fato, conseguimos. Contamos com o apoio da Seção de Assistência ao Ensino (SAE) do Museu Nacional, que disponibilizou dois mediadores para nos ajudar na oficina e entrou em contato com a Escola Municipal Portugal, que se mostrou muito interessada em participar, já que seria uma ótima forma de trabalhar o conteúdo de História Antiga.
A turma tinha 30 alunos, que foram divididos em dois grupos de 15: enquanto um grupo visitava a sala de Egito Antigo acompanhado pelos mediadores do Museu, o outro participava da oficina. Eu, como coordenadora da oficina, me dirigi ao grupo da vez, comunicando que estava acontecendo uma escavação arqueológica no Auditório Roquette Pinto do MN – sempre levantando questionamentos sobre o assunto: por exemplo, se eles sabiam o que um arqueólogo fazia ou se já tinham ouvido falar sobre o que era uma escavação arqueológica – e que naqueles sítios arqueológicos havia indícios de que se encontrariam artefatos egípcios antigos. Estavam dispostos pelo ambiente três “sítios arqueológicos” e, em cada sítio, estava um “arqueólogo” que ajudaria os alunos nessa parte da oficina (FOTO 3).

FOTO 3: “Arqueólogo” João Luiz Corrêa Gomes em um dos “sítios arqueológicos”. Foto: Beatriz Moreira. maio de 2014.

Enquanto os alunos procuravam artefatos egípcios (FOTO 4), os arqueólogos davam informações sobre as etapas de uma escavação arqueológica: catalogação das peças encontradas, identificação do artefato (FOTO 5), análise iconográfica da estatueta, a diferenciação entre a arqueologia do século XIX e início do XX e a do século XXI, e definição de cultura material, pois também havia objetos do cotidiano contemporâneo em cada “sítio arqueológico”.

FOTO 4: Alunos em busca de artefatos egípcios no “sítio arqueológico”. Foto: Beatriz Moreira. maio de 2014.
FOTO 5: Aluno identificando o artefato egípcio. Foto: Beatriz Moreira. maio de 2014.

Após todos terem encontrados as estatuetas (Ísis, Osíris, Hórus, Anúbis e olho de Hórus), os alunos tiveram que explicar aos colegas de turma o que tinham aprendido sobre cada deus representado, assim como realizar uma breve análise iconográfica (FOTO 6). Reforcei, nesse momento, a diferença entre a arqueologia do século XXI e a arqueologia de quando as peças do acervo egípcio do Museu Nacional foram encontradas (século XIX), além da importância do Museu em que eles estavam presentes. Houve uma imensa dificuldade por parte desses alunos ao exporem aos colegas a iconografia de cada deus, mas não foi por displicência ou por não terem prestado atenção na explicação, mas sim porque era o primeiro contato que tinham com a figura do deus e tudo ali era muito novo para eles. Esses alunos saíram do ambiente expositivo da sala de aula, ao qual estão acostumados, e lidaram diretamente com o trabalho manual, em que eram eles o centro das atenções e não o professor. Essa dinâmica é muito nova, porém extremamente enriquecedora para os alunos.

FOTO 6: Explicação da aluna aos colegas sobre a estatueta que encontrou. Foto: Céli Palacios. maio de 2014.

Após essa etapa, houve a apresentação da história do Mito de Osíris utilizando a técnica do teatro de sombras (FOTO 7). Foi uma etapa importante da oficina, pois, além de ter deixado mais claro quem eram os deuses que eles tiveram contato através das estatuetas encontradas nos “sítios arqueológicos”, foi explicitada a relação entre esses deuses e os alunos definitivamente entraram no jogo e se entregaram ao teatro de sombras. Ficaram extremamente curiosos também sobre como tínhamos elaborado o material.

FOTO 7: O Mito de Osíris narrado através do teatro de sombras. Foto: Beatriz Moreira. maio de 2014.

No final da oficina, fiz algumas perguntas aos alunos: o que mais chamou sua atenção na história? Quem eram os personagens da história? Quais eram as crenças sobre a pós-morte na religião egípcia antiga? E nas religiões atuais? Há alguma semelhança da religião egípcia com as religiões atuais? De acordo com o que aprenderam na oficina, o que um arqueólogo faz? Qual a relação entre o trabalho do arqueólogo e um museu? Estas perguntas objetivavam fixar o aprendizado e trabalhar a noção de alteridade.
Nós passamos um questionário de avaliação para ser preenchido por cada aluno com perguntas fáceis, tais como “o que você aprendeu de novo?”, e pedimos para que eles avaliassem a oficina. Todos avaliaram a oficina como “ótima” e responderam apontaram diversos aspectos que lhes chamaram atenção. A partir da análise das respostas, podemos perceber como diante da realidade de um país multicultural, a Educação Patrimonial torna-se um objeto de reflexão relevante no processo educacional. Os museus, enquanto espaços não formais de produção de saberes escolares, são campos privilegiados para a Educação Patrimonial. A atividade lúdica, todo tipo de jogo pedagógico, assim como as oficinas pedagógicas, são de extrema utilidade para o Ensino de História, pois os alunos afastam-se da “decoreba” do conteúdo para “passar na prova” e compreendem, de fato, o que está sendo “construído”. Assim, conseguimos aguçar a curiosidade e a vontade de estudar. E isso ficou muito claro quando a professora de Português da turma – que também dá aula de História por conta do regime de polivalência do município do Rio de Janeiro – nos disse “Eles são uns pestinhas! Não sei como aqui eles estão sendo uns anjinhos!”. E eles estavam sim sendo anjinhos, pois estavam interessados em aprender. E pasmem: o aluno mais indisciplinado da turma foi o que mais participou!
Enfim, espero que a descrição da minha experiência tenha sido de alguma valia para os professores e futuros professores que possam vir a lê-la. Se alguém quiser entrar em contato comigo para solicitar mais informações ou até ajuda para a elaboração de alguma oficina pedagógica, podem entrar em contato via e-mail: beatrizmoreira@ufrj.br.