Artefatos egípcios em perigo

Nova determinação do SCA põe o contexto de artefatos em risco

Por Márcia Jamille Costa | @MJamille

 

Saiu no Jornal Online Ahram a notícia de que o Supremo Conselho de Antiguidades produzirá um inventário de todas as terras no Egito para que desta forma o órgão possa declarar quais locais poderão ser vendidos para empreendedores. Seguindo a filosofia da “Arqueologia de Salvaguarda” a proposta é de que todos os arqueólogos realizem pesquisas em todo o país para determinar quais são as áreas “livres” de artefatos arqueológicos.

O termo “áreas livres” tornou-se para o SCA uma simples equação onde os locais que possuem somente artefatos móveis (como cerâmicas, sarcófagos, mobília, lítico, etc) serão removidos do seu ambiente de origem e levados para os museus, enquanto os com artefatos imóveis (os monumentos) permanecerão como “sítios arqueológicos”. Porém esta proposta põe em riso o contexto e a integridade dos artefatos já que muitos armazéns de sítios egípcios estão lotados e existem peças acumuladas desde os séculos passados em museus (a exemplo do Museu Egípcio do Cairo) que não receberam o adequado catálogo e manutenção.

Outra questão é em relação a forma como o conceito de “sítio arqueológico” é empregado, por exemplo, a matéria em questão não deixa claro sobre o destino dos espaços geográficos modificados pelo o homem que também são considerados um artefato, de acordo com algumas correntes teóricas.

O que nos parece então é que o SCA pensa hoje em transformar a Arqueologia Egípcia em um ramo para o turismo ao mesmo tempo em que tentará dar trabalho para os muitos arqueólogos recém formados do país que atualmente estão desempregados. Pensando neste motivo falsamente nobre não é difícil ver que as milhares de histórias da gente comum dos períodos pretéritos serão “removidas para um museu” enquanto que a história dos faraós estarão disponíveis a céu aberto e em seu local original para mostrar a grandeza de outrora do Egito. São muitas as questões (a maioria de cunho ético) que esta nova determinação do SCA está ferindo e por isto precisa ser revista.

As autoridades (tanto o SCA e os empreendedores) estão pensando somente em si mesmas e contam com a suposta “ignorância” do público que vive da Arqueologia (arqueólogos, historiadores, restauradores, etc) ou ama os templos egípcios. Sabemos claramente que o turismo egípcio se alimenta de monumentos como os de Luxor, Giza ou Abu Simbel, e que a Arqueologia vendida para este público é justamente da “monumentalidade”, mas a Arqueologia Egípcia não é só isto, ela abrange muitas outras questões e vários outros interesses.

Desde que eclodiram as greves dos  arqueólogos e os protestos dos recém formados o conselho só tem tomado medidas esdrúxulas e esta está sendo uma das mais absurdas.