O islã quer destruir as pirâmides?

Por Márcia Jamille Costa| @MJamille

 

No dia 11 de julho (2012) o site http://frontpagemag.com lançou uma matéria perturbadora de autoria de Raymond Ibrahim, que acusa lideres muçulmanos de apelarem para que os seus fieis destruíssem as pirâmides do platô de Gizé, as quais seriam o “símbolo do paganismo”. De acordo com a denúncia o atual presidente do Egito, Muhammad Morsi (que faz parte da Irmandade Muçulmana e cujo slogan de campanha é “Islã é a solução”), teria sido convocado a realizar a destruição.

 

Pirâmides do platô de Gizé. Fonte: Papel de parede. Disponível em. Acesso em 27 de janeiro de 2011.

 

A matéria cita alguns exemplos de estragos feitos em artefatos egípcios por parte dos primeiros invasores muçulmanos e aponta justamente a Grande Esfinge, cujo nariz teria sido destruído por fieis e não por Napoleão como a história Ocidental corriqueiramente descreve (Em verdade não se sabe quando e por quem o nariz teria sido destruído, desta forma fica difícil apontar um culpado).

O autor argumenta que esta ânsia em destruir monumentos antigos seria uma necessidade por parte dos crentes em aniquilar o seu passado “não islâmico” e pela a “não identificação” destas pessoas em relação a história antiga, uma vez que o país só tinha sido dominado por muçulmanos a partir do ano 600 da nossa era, centenas de anos após os romanos implantarem ali sua república.

 

Esfinge e uma das pirâmides do platô de Gizé. Imagem disponível em SILIOTTI, Alberto. Egito. (Tradução de Francisco Manhães). 1ª Edição. Barcelona: Editora Folio, 2006. p. 135.

O texto é finalizado por um apelo velado para as instituições internacionais, as quais prezam pela não crítica ao islã para assim evitar a “Islãfobia” (que se tornou popular após o ataque aos Estados Unidos em 11 de Setembro de 2011), e recrimina esta imparcialidade enquanto os artefatos faraônicos estão para ser destruídos.

Se a ideia do autor era chamar a atenção para a questão ele conseguiu imediatamente, e isto é visível pelos mais de oitocentos comentários que a matéria recebeu. A reação internacional foi imediata não só pelo teor grave das acusações, mas pelo o fato do nome do atual presidente estar envolvido.

Dias antes, em 26 de Junho, o site http://eagulf.net já tinha emitido, em árabe, um comunicado negando tais alegações por parte dos islâmicos, texto que aparentemente não tinha sido consultado por Ibrahim.

Como as acusações contra o povo muçulmano tornaram-se fortes após a vitória de Muhammad Morsi, que tinha sido eleito no dia 24 de junho (2012), foi chegada a conclusão que os textos só estavam buscando difamar a imagem do Islã, tocando no que era mais sensível as comunidades internacionais que é o patrimônio arqueológico. Apesar de tal conclusão, as denúncias de Ibrahim já tinham sido transmitidas para outras línguas, a exemplo do espanhol.

Em resposta a controvérsia, no dia 23 de julho o New York Times lançou uma matéria que buscou esclarecer os fatos. De acordo com o jornal, o inicio das especulações se deu no dia 30 de junho, após uma nota ser publicada na revista Rose el-Youssef, uma antiga partidária do ex ditador do país, Hosni Mubarak. A nota teria ganhado como base uma declaração dada pelo sheik Abdellatif al-Mahmoud em seu suposto twitter no dia 12 de julho onde ele teria firmado tal ordem de destruição dos monumentos, mensagem a qual o próprio usuário da conta afirmou ser falsa, fabricada em photoshop por alguém que quis se passar por ele. O jornal procurou pelo o sheik, mas ele não foi encontrado para dar uma declaração.

Em 2011, cita ainda o New York Times, outro sheik, o Abdel Moneim el-Shahat, teria sugerido que o rosto das estátuas egípcias fossem cobertas por cera, uma vez que o Islã repudia reproduções de imagens humanas.

Verdadeira ou não, estas matérias têm reacendido o pavor Ocidental pelo o Islã, e isto é visível através dos inúmeros comentários em sites, blogs e redes sociais. Algumas mensagens, infelizmente, acharam estes acontecimentos como uma justificativa para continuar a difamar o islã e tudo o que ele representa. Da mesma forma, não foi impossível encontrar comparações com a destruição de sítios arqueológicos em Timbuktu e os Budas de Bamiyan, no Afeganistão, ambos realizados por extremistas muçulmanos.

Apesar de muitos estarem comentando tais declarações, o atual presidente não se pronunciou, e sim o seu porta-voz, Ahmed Sobeai, que declarou ao New York Times que Morsi não se explicaria sobre o pedido do sheik, uma vez que isto jamais aconteceu e acrescentou que os monumentos egípcios e em especial o foco de toda a discussão, as Grandes Pirâmides, permanecem seguros.

 

Fonte:

Pirâmides do platô de Gizé. Fonte: Papel de parede. Disponível em <http://www.opapeldeparede.com.br/wallpapers-9993/> Acesso em 27 de janeiro de 2011.

Matéria com o comunicado negando as alegações por parte dos islâmicos (em árabe. No meu caso usei o Google Tradutor). Disponível em <  http://eagulf.net/archives/104018 > Acesso em 11 de Julho de 2012.

Calls to Destroy Egypt’s Great Pyramids Begin. Disponível em < http://frontpagemag.com/2012/raymond-ibrahim/muslim-brotherhood-destroy-the-pyramids/ > Acesso em 11 de Julho de 2012.

El extremismo islámico pone en peligro las Pirámides de Egipto. Disponível em < http://www.cubadebate.cu/noticias/2012/07/11/el-extremismo-islamico-pone-en-peligro-a-las-piramides-de-egipto/ > Acesso em 12 de Julho de 2012.

Contrary to Gossip, Pyramids Have No Date With the Wrecking Ball. Disponível em < http://www.nytimes.com/2012/07/24/world/middleeast/in-egypt-rumor-of-pyramids-demise-proves-flimsy.html > Acesso em 29 de Julho de 2012.

Mursi vence eleições no Egito com slogan “Islã é a solução”. Disponível em <  http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI5856529-EI17615,00-Mursi+vence+eleicoes+no+Egito+com+slogan+Isla+e+a+solucao.html > Acesso em 29 de Julho de 2012.