Djer: o sucessor de Ho-Aha

Por Márcia Jamille | @MJamille | Instagram

Djer (também chamado de Zer; Iti), foi rei durante a 1ª Dinastia (Período Arcaico) (DAVID, R.; DAVID, A., 1992). O pouco que sabemos acerca desse governante é que foi o sucessor e provavelmente filho de Aha (Ho-Aha) — o qual teorias apontam que seria o verdadeiro Narmer (LESKO, 2002; COSTA, 2014) — com a rainha Khenthap (RICE, 1999). Seu nome de Hórus, Iti, está registrado na Lista Real de Abidos (DAVID, R.; DAVID, A., 1992).

Governo, batalhas e outras atividades:

Alguns remanescentes arqueológicos nos levam a crer que o seu governo exerceu uma forte atividade política no exterior, como o caso da Estela de Palermo sugere, onde ele é mencionado como tendo liderado uma expedição contra Setjet. A literatura acadêmica aponta que Setjet estava localizada provavelmente no Oeste Asiático (leia-se aqui como a área ligeiramente próximo da Península do Sinai) ou o Sinai propriamente dito (DAVID, R.; DAVID, A., 1992; RICE, 1999).

Estela do rei Djer encontrada em Abidos. Wikimedia Commons.

Outro registro de teor bélico é uma cena de batalha encontrada em Wadi Halfa, no Sudão, que alude que suas campanhas militares se estenderam até o Sul do Egito, próximo a Segunda Catarata do Nilo. No local igualmente foi encontrada uma escultura em parede com o seu nome.

Sabemos também que em seu tempo já era realizada a manipulação do cobre, como uma evidência encontrada em uma mastaba menfita nos mostra; na mastaba pertencente a um dos seus altos funcionários, cujo nome é Sabu, foram encontradas uma grande quantidade de artefatos feitos em cobre, metal que provavelmente foi extraído no Sinai, igualmente a turquesa, que foi encontrada na possível tumba do rei (RICE, 1999).

Morte e sepultamento:

Não possuímos nenhum dado sobre a sua morte e a sua múmia jamais foi encontrada, mas alguns pesquisadores acreditam que a sua tumba, ou talvez cenotáfio — caso ele tenha seguido o exemplo de Ho-Aha, sendo inumado em Saqqara —, já foi identificada em Abidos. A sepultura tinha sido saqueada em algum momento do passado, mas foi possível resgatar em sua parede norte um braço mumificado ainda com quatro braceletes feitos de ouro, turquesa e lápis-lazúli o enfeitando (DAVID, R.; DAVID, A.; RICE, 1999).

Tumba que acredita-se ser de Djer em Abidos. Foto Margaret Maitland.

O individuo dono do braço nunca foi identificado, mas já especulou-se que o dono seria uma mulher e que a mesma poderia ser uma rainha que teria sido sepultada com Djer. A sugestão é que se trataria de Herneith, mas que cuja tumba já foi descoberta em Saqqara (RICE, 1999).

Parte do braço encontrado na tumba de Djer. MULLER, Hans Wolfgang; THIEM, Esberhard. O ouro dos faraós (Tradução de Carlos Nougué, Francisco Manhães, Maria Julia Braga, Angela Zarate). Barcelona: Folio, 2006.

Assim como no túmulo de Ho-Aha, corpos de serviçais foram descobertos. Durante a consulta para esse texto não foi encontrado um consenso para o número de indivíduos inventariados, sedo apresentados um montante de de 317 de acordo com Rice (1999) e mais de 600 de acordo com David & David (1992). Essas pessoas provavelmente foram sacrificadas para acompanhar o governante falecido.

Posterioridade:

Igualmente a outros reis e faraós, Djer teve um culto póstumo, sendo celebrado em Wadi Halfa. Já a sua possível tumba, com a chegada do Médio Reino, foi tida como o local de sepultamento do deus Osíris, inclusive uma figura de basalto desta divindade foi depositada no local (DAVID, R.; DAVID, A.; RICE, 1999).

Referências bibliográficas:

DAVID, Rosalie; DAVID, Antony. A Biographical Dictionary of Ancient Egypt. London: Steaby, 1992.
COSTA, Márcia Jamille Nascimento. Uma viagem pelo Nilo. Aracaju: Site Arqueologia Egípcia, 2014.
LESKO, Leonard. “Cosmogonias e Cosmologia do Antigo Egito”. In: SHAFER, Byron; BAINES, John; LESKO, Leonard; SILVERMAN, David. As religiões no antigo Egito (Tradução de Luis Krausz). São Paulo: Nova Alexandria, 2002.
RICE, Michael. Who’s Who in Ancient Egypt. Londres: Routledg. 1999