Investigação arqueológica sob fogo cruzado: a polêmica do “Ramo das Pirâmides”

Recentemente, o mundo da egiptologia foi abalado pela publicação de um artigo científico que afirma ter descoberto um antigo braço do rio Nilo, o “Ramo Ahramat”, que teria sido crucial para o transporte de blocos de calcário usados na construção das pirâmides. Utilizando imagens de radar por satélite, dados geofísicos e sondagens no solo, a equipe de pesquisa argumenta que este ramo, agora desaparecido, corria paralelamente ao Nilo principal, com cerca de 64 km de comprimento e entre 200 e 700 metros de largura. Segundo os autores, este canal natural teria sido uma hidrovia vital, ajudando a explicar por que tantas pirâmides estão localizadas longe do Nilo, no coração do deserto.

Pirâmides do platô de Gizé

No entanto, a pesquisa está sob escrutínio rigoroso após alegações de que os autores teriam deliberadamente omitido contribuições cruciais de estudos anteriores. Os arqueólogos renomados Zahi Hawass e Mark Lehner, autoridades em estudos de pirâmides, emitiram uma nota contundente questionando a originalidade e a precisão do artigo. Eles destacam que a ideia de um braço do Nilo que servisse às pirâmides não é nova, remontando a mais de um século, com propostas estabelecidas por especialistas como o egiptólogo francês George Goyon em 1971.

A Polêmica da Omissão: Uma Questão de Plágio?

Hawass e Lehner não economizaram nas críticas, pontuando imprecisões e omitindo correções ao artigo. Eles apontam que a tradição egípcia de sepultamento na Terra dos Mortos, a oeste de Memphis, é uma explicação bem documentada para a localização das pirâmides, algo que o artigo não considerou adequadamente. Além disso, a hipótese de portos nos templos dos vales das pirâmides, acessíveis pelas águas do Nilo durante as inundações, é uma teoria já amplamente aceita. Eles ressaltam que o artigo falha em mencionar o papiro Wadi el-Jarf, descoberto em 2013, que contém o diário de Merer, detalhando o transporte de blocos de calcário de Tura a Gizé por um canal, identificado pelo egiptólogo Pierre Tallet como o canal Libeini.

Uma Descoberta Revolucionária ou uma Reiteração de Conhecimentos?

A descoberta do “Ramo Ahramat” é descrita como uma revelação revolucionária, mas as críticas levantam questões sobre a integridade científica do estudo. A supressão de trabalhos anteriores e a falta de referências a descobertas significativas, como o papiro Wadi el-Jarf, comprometem a credibilidade da pesquisa. Hawass e Lehner acusam os autores de negligenciar a vasta base de conhecimento acumulada por gerações de egiptólogos, apresentando teorias já conhecidas como se fossem novas.

Conheça esta polêmica detalhadamente:

Fontes:

The Egyptian pyramid chain was built along the now abandoned Ahramat Nile Branch. Disponível em < https://www.nature.com/articles/s43247-024-01379-7. Acesso em 5 de julho de 2024.

Discovery may explain why Egyptian pyramids were built along long-lost Ahramat branch of the Nile. Disponível em < https://phys.org/news/2024-05-discovery-egyptian-pyramids-built-lost.amp. Acesso em 5 de julho de 2024.

Newly mapped lost branch of the Nile could help solve long-standing pyramid mystery. Disponível em < https://www.egyptindependent.com/newly-mapped-lost-branch-of-the-nile-could-help-solve-long-standing-pyramid-mystery/#google_vignette. Acesso em 5 de julho de 2024.

Archaeologists Zahi Hawas & Mark Lehner Refute New Pyramid Research. Disponível em < https://scenenow.com/lifestyle/archaeologists-zahi-hawas-mark-lehner-refute-new-pyramid-research. Acesso em 5 de julho de 2024.

Pharaonic Egypt: There is still Ambiguity. Disponível em < https://see.news/pharaonic-egypt-there-is-still-ambiguity. Acesso em 5 de julho de 2024.

Claimed discovery of extinct Nile branch near Pyramids sparks debate among Egyptologists. Disponível em < https://english.ahram.org.eg/News/523985.aspx. Acesso em 5 de julho de 2024.