O ministro de turismo e antiguidades do Egito, Khaled el-Anani, inspecionou semana passada os últimos detalhes da finalização do salão de exposições do Museu Nacional da Civilização Egípcia em Fustat, um dos projetos mais importantes realizados pelo governo egípcio em cooperação com a UNESCO. A inspeção teve início verificando a operação de portas eletrônicas para entrada e saída, depois ele assistiu alguns artefatos arqueológicos sendo alocados na sala de exposições e por fim, verificou os preparativos para receber as múmias reais que estão no Museu Egípcio do Cairo.
Essas múmias serão transferidas sob um esquema de alta segurança e o treino para esse momento histórico foi feito no dia 14 de janeiro (2020). Elas são importantes porque foram encontradas no final do século 19 na TT320, um esconderijo real localizado em Deir el Bahari. Entre os corpos está Ramsés II, Seqenenre Tao, Tutmés III, Seti I, Hatshepsut e as rainhas Meritamen e a Ahmose Nefertari.
Originalmente o governo egípcio esperava convidar a imprensa internacional para acompanhar o cotejo fúnebre. Contudo, devido a pandemia do novo coronavírus, provavelmente esses planos mudarão.
Outros artefatos tão interessantes quanto:
O professor Moamen Othman, chefe do setor de museus e membro do comitê de exibição do museu, disse que o salão de exposições principal inclui uma variedade de artefatos. São alguns deles:
Objetos que pertenceram a um sacerdote egípcio que viveu durante o Novo Reino;
Estátuas datadas do Antigo Reino representando pessoas cozinhando;
Estátuas de madeira datadas do Novo Reino representando divindades;
Um conjunto de potes e amuletos do rei Tutmés IV, todos feitos de faiança azul;
Um papiro e uma cópia do “Livro dos Mortos” datados da época tardia;
Uma porta de madeira que pertence a um antigo engenheiro egípcio;
Uma estátua de um escriba feita de granito vermelho junto com ferramentas de escrita, tintas e pincéis;
Uma estátua representando uma amamentação e uma placa de nascimento do Novo Reino;
Esfinges do rei Amenemhat III;
Uma estátua sentada do rei Tutmés III;
Cerca de 50 lamparinas da era islâmica;
Parte de um pé de uma múmia com um dedo protético de madeira anexado.
O Ministério do Turismo e Antiguidades do Egito está se preparando para transferir as múmias de alguns dos mais famosos faraós, que há mais de um século estão no Museu Egípcio do Cairo, para o Museu Nacional da Civilização Egípcia de Fustat.
No total, 22 múmias reais serão transferidas sendo 4 delas de rainhas. Cada uma em seus próprios recipientes especiais para protegê-las de choques ou danos. Esses corpos foram encontrados no final do século 19 na TT320, um esconderijo real localizado em Deir el Bahari. Entre as múmias transferidas está Ramsés II, Seqenenre Tao, Tutmés III, Seti I, Hatshepsut e as rainhas Meritamen e a Ahmose Nefertari.
As múmias serão transferidas sob alta segurança. E inclusive o governo egípcio realizou no último dia 14 de janeiro (2020) um ensaio de como isso será feito. A transferência será coberta pela imprensa internacional, mas a data ainda não foi liberada. No vídeo abaixo você poderá conferir mais sobre esta notícia e saber o que será feita da múmia do faraó Tutankhamon.
Fonte:
Preparations for transfer of 22 royal mummies finalized. Disponível em < https://www.egypttoday.com/Article/4/79668/Preparations-for-transfer-of-22-royal-mummies-finalized >. Acesso em 17 de janeiro de 2020.
Não possuímos muitos títulos acadêmicos em português sobre a Antiguidade egípcia e quando um surge precisamos aproveitar a oportunidade. Este é o caso da obra “Fortificar o Nilo: a ocupação militar egípcia da Núbia na XII Dinastia (1980-1790 A.C.)”, do historiador e arqueólogo Eduardo Ferreira, que é mestre em História Militar.
Publicado pela Chiado Editora, editora parceira do nosso site, esse livro é o resultado de uma dissertação de mestrado cujo foco são as fortificações egípcias da 12ª Dinastia; como eram usadas, construídas, etc. As fortalezas abordadas são aquelas da Segunda Catarata do Nilo, na Baixa Núbia, atual Sudão, e que passaram por um resgate de emergência na década de 1970, por conta da construção da Represa de Assuã. E é graças a essa represa que alguns desses edifícios hoje encontram-se em baixo da água, estando somente duas ainda visíveis.
O autor, já de início, deixa claro que os pesquisadores, no geral, têm pouco interesse em História Militar, preferindo então focar em temas culturais ou religiosos. Esclarecendo isso é possível entender melhor a importância desta obra.
O livro é dividido em 4 capítulos, todos possuindo subcapítulos. E ao longo de suas páginas vocês encontrarão termos que não são muito comuns para o público não acadêmico, como é o caso de “Grupo C”, “Uauat”, que se refere a Baixa Núbia, “Kerma”, “ta-seti”, que significa “Terra do Arco” e que era um dos nomes dados pelos egípcios para Núbia, etc. No canal do Arqueologia Egípcia no Youtube fiz uma resenha bem completa deste livro. Confira a seguir:
No primeiro capítulo ele fala sobre o papel de alguns faraós da 12ª Dinastia na construção de fortes e a ameaça bélica da Núbia. Também apresenta os medjay e os satu. Os primeiros, a priori, eram relacionados com os núbios, até que o termo se tornou uma designação para qualquer tipo de militar. É tanto que nesse livro são citadas as mulheres medjay, mas isso em relação a sua etnia. E os segundos eram os arqueiros núbios.
Um dos pontos que o autor salienta é que os exércitos núbios, em especial o de Kerma, usualmente são subestimados por alguns pesquisadores, que os tomam como inferiores em relação aos egípcios. É aí que ele explica a sofisticação militar desses povos que, inclusive, faziam uso de frotas.
No segundo capítulo um dos primeiros tópicos abordados é sobre a demografia no Egito e as cidades muradas. E então o autor parte para as fortalezas, explicando que não se sabe muito sobre como os habitantes delas viviam nem sobre a sua organização.
O motivo de se fixar fortes na fronteira com a Núbia também é explicado: em termos simples era para controlar e fixar uma fronteira, além de, claro, servir de apoio e base para as operações militares.
Ele também explica muito brevemente a presença de artefatos arqueológicos pertencentes aos núbios dentro dessas estruturas, e esclarece que algumas populações nativas levantaram residências próximas as fortalezas. A conclusão do autor do porquê da presença dessas pessoas em um “território hostil” como esse é de que essa proximidade com as fortalezas teria relação com a busca por proteção contra outros grupos também nativos da Núbia.
No terceiro capítulo ele trata dos elementos arquitetônicos dessas estruturas, abordado pontos como proteção e captação de água. Assim como questões sobre a vida dos soldados egípcios que viviam nesses lugares. As discussões sobre as formas de acesso, como portas e escadas, claro que também estão inclusas, assim como a existência, ou suposta existência, de espaços como quartel-general, arsenal, celeiros e casas de banho.
Já sobre a residência de generais e dos soldados comuns é uma grande incógnita e em complemento o autor se pergunta quantos indivíduos poderiam viver lá e qual a capacidade agrícola de um lugar desses.
Então no quarto capítulo é levantada a questão de quem eram as pessoas destacadas para ir para os fortes, discutindo o número de contingentes. Que tipo de pessoa aceitaria esse trabalho? O que eles ganhariam em troca? Eles recebiam algum incentivo financeiro? Novos cargos? Sabe-se que no Médio Reino os comandantes possuíam o cargo de “Generalíssimo” e no Novo Império eles passaram a ser vice-reis da Núbia, e isso seria um grande estímulo para ir morar em um lugar tão isolado. Porém, não está comprovado a existência física de um generalíssimo nas fronteiras.
Ele igualmente aborda como o recrutamento era realizado, explicando que a cada 100 jovens de um determinado local, um era levado para servir. E ele complementa falando que os recrutas poderiam exercer funções de policiamento ou escolta. Então temos a apresentação do cargo de patrulheiro, que também eram chamados de “caçadores”. Eles patrulhavam o deserto, as fronteiras e as cidades.
Em seguida ele faz uma abordagem sobre os armamentos, locais para a sua manufatura e materiais usados para fazê-los. Dentre as armas citadas estão as lanças, arcos, flechas, maçãs, machado, punhais e espadas.
E finalmente chegamos as conclusões finais, onde ele faz um resumo do que levantou no livro.
Uma abordagem geral sobre “Fortificar o Nilo”:
Em um livro cujo foco está em estruturas arquitetônicas, senti muita falta de boas reconstituições das fortalezas, muralhas, torres de vigia e postos sinaleiros. Na verdade, a obra contém ilustrações, mas algumas estão com a qualidade comprometida ou não possuem muitas informações. Por isso, acredito que quem é só um curioso que está interessado em conhecer um pouco mais sobre a história egípcia pode ter certa dificuldade, enquanto que um acadêmico se sentirá mais à vontade.
Eu também queria ver uma lista com os nomes das fortalezas em um mapa maior e com uma qualidade melhor. Alguns dos encontrados no livro infelizmente possuem letras pequenininhas.
Tirando esses detalhes, a obra é bem referenciada, ou seja, os interessados no assunto terão várias sugestões de bibliografia. Sem contar que ele é uma ótima base para quem quer estudar o tema militar, até porque está em português. É desnecessário dizer que isso é um grande bônus.
Esteticamente é um livro bonito e as folhas amareladas tornam a leitura agradável. Isso me deixa ansiosa para saber qual será a próxima publicação sobre o Egito Antigo da Chiado Editora. Lembrando que eles publicaram também o livro “Gramática Fundamental de Egípcio Hieroglífico”.
Recentemente foi anunciada a estreia de um documentário que falará sobre a mãe do faraó Tutankhamon e a nova reconstituição facial feita para ela. Será um especial dividido em duas partes para o programa Expedition Unknown, da Travel Channel. Ainda não existe uma data prevista para o Brasil.
No Egito foram descobertos alguns esconderijos onde estavam múmias da realeza. O mais famoso é o de Deir el-Bahari, o qual já foi comentado aqui no Arqueologia Egípcia. Já um dos menos conhecidos é o que foi descoberto em 1898, na KV-35. Neste foi encontrada a múmia da mulher cujo exames genéticos apontam como sendo a mãe de Tutankhamon. É ela um dos focos do documentário:
A máscara de Tutankhamon é um dos artefatos arqueológicos mais surpreendentes advindos da Antiguidade. Feita em ouro e pedras semi e preciosas, ela tinha como objetivo tanto retratar o rei, como passar uma mensagem divina, afinal, de acordo com a crença egípcia antiga, a pele dos deuses era feita de ouro e os seus cabelos de lápis-lazúli.
Imagem frontal da máscara mortuária de Tutankhamon. Imagem disponível em MULLER, Hans Wolfgang; THIEM, Esberhard. O ouro dos faraós. (Tradução de Carlos Nougué, Francisco Manhães, Maria Julia Braga, Angela Zarate). 1ªEdição. Barcelona: Editora Folio, 2006. pág. 175.
Existem algumas controvérsias que envolvem este artefato, um delas é se de fato ele retrata o jovem rei. Esta questão, assim como outras informações adicionais tais como os matérias que a compõe, significados das inscrições que estão em suas costas, seu peso e tamanho são comentados no vídeo abaixo:
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Um homem poderoso comandando é uma coisa; uma mulher poderosa é outra bem diferente.
— ‘Nefertiti: O Livro dos Mortos’, Nick Drake, página 150.
Escrito por Nick Drake, “Nefertiti: O Livro dos Mortos” (Nefertiti: The book of Death) é o primeiro livro da série policial protagonizada pelo detetive Rahotep. Baseado em cenários e alguns personagens reais, a história se passa durante o final da 18ª dinastia (Novo Império), mais especificamente na época do reinado do faraó Akhenaton. Narrado em primeira pessoa o enredo conta a história de Rahotep, um integrante incomum da medjay que faz uso de técnicas de investigação bem anormais para o contexto do Egito Antigo e que por conta disso é acionado pelo faraó Akhenaton para resolver um mistério: o desaparecimento da rainha Nefertiti.
Sabendo qual a sua missão e que tem um tempo curto para resolver tal enigma— e que se falhar não somente ele, mas a sua família sofrerá uma terrível punição — Rahotep se aprofunda cada vez mais na vida da realeza, suas crenças, hipocrisias e mundo de aparências. E paralelamente passa a conhecer mais sobre a personalidade da rainha sumida e sua importância para a manutenção do equilíbrio político no reino.
— Esta cidade, este mundo novo esplêndido e iluminado, este futuro glorioso. Tudo parece glorioso, mas está construído sobre areia. Todos estão determinados ou são forçados a acreditar nisso para torná-la possível. Mas sem ela, sem Nefertiti, não é possível acreditar nisso. Não é verdadeiro. Não vai funcionar. Vai desmoronar.
— ‘Nefertiti: O Livro dos Mortos’, Nick Drake, página 85.
O mistério do sumiço de Nefertiti faz Rahetep enfrentar vários perigos mortais e sofrer experiências incomuns. A partir do momento em que ele entrevista os indivíduos que fizeram parte do convívio dela muitos tornam-se suspeitos em potencial e a cada página parecem ter algo a esconder ou a proteger, mesmo que sejam somente interesses pessoais.
Nick Drake. Foto: Divulgação.
Nascido em Londres em 1961, Drake além de escritor de mistérios é poeta e dramaturgo. Estudou na Universidade de Cambridge e trabalhou em vários projetos envolvendo outros artistas e cientistas. Seu primeiro livro envolvendo o Egito Antigo, Nefertiti: Book of the dead, foi publicado pela primeira vez em 2006. Nesta época ele foi indicado para o prêmio Crime Writers’ Association Best Historical Crime Novel (Melhor Romance Histórico Policial da Associação de Escritores Policiais) e atualmente está sendo adaptado para a TV por Patrick Harbinson, produtor de Lei e Ordem: Unidade de Vítimas Especiais, Homeland, 24 Horas, dentre outros.
O universo criado por Drake nos apresenta um Egito Antigo quase convincente e factual. O que está explicito é que ele realmente se dedicou a estudar variados aspectos essenciais das sociedades egípcias do faraônico, mas incluindo muitos pontos da nossa e várias licenças poéticas, como vocês poderão conferir mais a diante. Ele conseguiu trabalhar com esse conhecimento e recriar um egípcio do faraônico sem parecer artificial; Nós estamos o tempo todo com o Rahotep, estamos em sua cabeça e conferindo suas anotações, ou seja, nós estamos na antiguidade egípcia.
Confira a resenha em vídeo deste livro no canal do Arqueologia Egípcia no Youtube; muitas das pontuações que não estão aqui estão presentes no vídeo, então assista-o para ter uma abordagem mais completa.
O que chama a atenção na obra é que Drake não cria um Egito Antigo místico, bucólico e saudosista a exemplo de muitas criações que trazem o tema, onde os leitores são apresentados a um personagem principal prefeito e belo, extremamente inteligente ou com outras qualidades superiores quanto. Aqui o escritor apresenta um Egito mais próximo da realidade, partindo do ponto de vista de alguém da população comum que precisa por comida na mesa, educar seus filhos e tem seus próprios pensamentos sombrios e pouco belo do mundo. Rahotep tem uma inteligência única, contudo, é vulnerável, tem suas dúvidas existenciais, mas, não busca por respostas na religião.
E foi aí que fiz a coisa mais difícil da minha vida. Vestindo minha melhor roupa de linho e com minhas autorizações na pasta, fiz uma breve libação para o deus da casa. Orei com sinceridade incomum (pois ele sabe que não acredito nele), por sua proteção e pela proteção de minha família.
— ‘Nefertiti: O Livro dos Mortos’, Nick Drake, página 17.
E como cenário para o desenvolvimento da trama temos o afamado Período Amarniano apresentado aqui como caótico, à beira de um colapso, onde há a escassez de alimentos e o faraó não está em bons termos com os sacerdotes de Tebas. É fato que o faraó Akhenaton se desvinculou do culto a Amon para se dedicar ao deus primordial Aton. Contudo, o caos social pelo qual o Egito passou naquela época está mais próximo de uma propaganda política negativa posterior. Não que a população não tenha sofrido em vários momentos, mas, ao que parece não foi tão diferente do que no reinado do seu pai, Amenhotep III.
Para aqueles que leram o livro, mas não conhece a história egípcia ou a conhece de forma artificial é preciso realizar uma apresentação geral do que ocorreu na época em que o faraó Akhenaton viveu: Como já citado, o deus Aton era uma divindade primordial, sendo um dos aspectos do deus Rá. Recebeu pouca atenção dos faraós, em especial durante o Novo Império, quando o patrono da cidade de Tebas, Amon, tornou-se o deus principal se tornou. Tebas, a princípio, era uma cidade pequena, mas que foi alçada a capital após a invasão dos hicsos e a reunificação do Egito por parte dos seus príncipes devotos a Amon. Como consequência, templos a este deus foram erguidos e o seu clero enriquecendo.
Akhenaton. Foto: Rena Effendi.
Décadas mais tarde, com a chegada do reinado do faraó Amenhotep III os sacerdotes de Amon já eram extremamente poderosos e o rei percebeu que algo necessitava ser feito. Assim, começou a dar espaço para outras divindades, entre elas Aton. Porém, foi com o reinado do seu filho que as coisas se tornaram mais radicais: Nascido Amenhotep IV, Akhenaton construiu um pequeno templo a Aton dentro do templo de Amon em Luxor e posteriormente transfere a capital para a recém-criada cidade de Aketaton. Lá muda o seu nome e passa a cultuar somente Aton.
Inaugurada no Ano 6 (e não no Ano 12, como afirmado no livro), Aketaton é uma das primeiras cidades planejadas da antiguidade. Foi nela onde três das seis filhas do rei com Nefertiti nasceram (as outras três foram em Tebas) e onde Akhenaton faleceu após 17 anos de reinado.
Nos seus sítios arqueológicos foram encontrados vários registros da família real executando tarefas religiosas ou em simples momentos de deleite. Na maioria destas obras tanto Akhenaton — assim como a sua esposa e suas filhas — foi representado com feições excêntricas (crânios alongados, braços longos, coxas bem roliças e seios proeminentes). Estas características artísticas levantaram alguns debates sobre a possibilidade de que a família possuísse alguma deformidade, mas com o avanço dos estudos da Arqueologia Egípcia a maior probabilidade na atualidade é que essas representações sejam um discurso político onde o rei queria se representar especial, diferente da população comum.
Nefertiti, Akhenaton e uma de suas filhas prestando homenagens a Aton. Foto: Wikimedia Commons.
Retornando a obra, além de Akhenaton e Nefertiti os leitores são apresentados a outros personagens históricos reais tais como Mahu (chefe de polícia), Meryra (Sumo sacerdote de Aton), Horemheb (general), Ay (Sacerdote Pai Divino, Escriba Real, Intendente dos Cavalos e mais outros títulos honoríficos), Tiye (Rainha Mãe), Kiya (esposa secundária de Akhenaton), as filhas de Nefertiti, Tutmosis (escultor) e Nakht[1]. Porém, todas as situações em que eles estão envolvidos e suas personalidades são totalmente fictícias, não tomem como realidade histórica. São acontecimentos criados pelo autor unicamente para a sua trama.
E falando em criação para a trama, abaixo elenquei alguns pontos que são puros equívocos do Drake:
Os equívocos:
Vários dos objetos apresentados na obra não existiam no Egito Antigo, entre eles os livros, pipas, cabides, guarda-roupas, chafarizes, chaves e trancas. Outros erros é dar certas utilizações para determinados objetos que não condizia com a realidade, como, por exemplo, os papiros. Na trama eles são utilizados como folhas de diários e para os desenhos das crianças. Mas, na realidade eles eram utilizados para registros mais específicos tais como julgamentos, testamentos, formulas religiosas ou contos. Para anotações do dia a dia o que eram utilizados eram os ostracos.
E em dado momento é citada uma certa sociedade secreta chamada “Sociedade das Cinzas”. Isso também é fruto da imaginação de Drake para atender a sua trama.
Os acertos:
Logo nas primeiras páginas o Rahotep fala sobre a neve “no Norte”. Ele não fala exatamente o lugar, mas no Egito já teve ocorrência de neve, a exemplo da virada de 2014 para 2015, quando nevou justamente no Norte do país. Foi uma ocorrência incomum cujo precedente advindo da Antiguidade egípcia é desconhecido, mas nunca se sabe… E em outra das reflexões do personagem ele nos conta de algo que se comentava em sua juventude, de que há muitos anos o Egito era mais verde. Não sei se é plausível a memória oral viver tanto, mas muitos milênios antes do Egito ser unificado o território era muito mais arborizado, com grandes lagos e animais que no faraônico só podiam ser encontrados na África central. Para quem tem curiosidade em saber mais pesquise sobre a “caverna dos nadadores”, uma caverna localizada em Gilf Kebir que possui registros rupestres com cerca de 10 000 anos onde são retratadas pessoas nadando.
Agora, entrando no âmbito de profissões, o nosso investigador Rahotep é um medjay. Eles não só existiram como era um corpo militar responsável pela segurança e a ordem no Egito. Já a profissão de detetive em si não existia, entretanto, as investigações eram geridas pelos próprios medjays. Porém, como não existia ainda os Direitos Humanos as inquirições dos casos mais graves usualmente eram feitas com depoimentos dados após seções de tortura. Não existiam protocolos e no ato do julgamento somente uma pessoa dava o veredito. Alguns casos poderiam chegar até o faraó, entretanto, isso não garantia uma resolução justa.
E algumas vezes é citada a hereditariedade do cargo de sacerdote: Naquela época o mais comum era os filhos assumirem os cargos de seus pais, isso em todos os aspectos da sociedade.
O escultor Tutmosis (Tutmés), já citado rapidamente aqui, faz um passeio com o protagonista por seu ateliê. Lá mostra algumas cabeças de gesso com faces realistas. Elas também existiram e, por acaso, foi ele quem esculpiu o famoso busto da rainha Nefertiti.
Imagem de Nefertiti escupida por Tutmosis (Tutmés). Foto: Nile Magazine.
Rahotep fala de uma mulher nua em um momento de lazer em uma piscina. A nudez não era repreendida, não era um tabu. Este tipo de cena muito provavelmente era mais comum do que nós imaginamos. Ele também comenta sobre a cerveja e o vinho; sobre este último salienta que em seu jarro está gravado o ano de sua confecção e procedência. Isso também poderia ocorrer.
E uma informação que pode parecer incomum para alguns é o deposito de olhos de vidro em corpos de múmias. E sim, a bibliografia confirma a existência deste ato. Outros costumes e artefatos citados no livro realmente existiram tais como:
☥ O manto de leopardo: usualmente vestido por altos-sacerdotes;
☥ Muletas: utilizadas por vezes como uma representação de poder entre líderes militares;
☥ A existência de Cinco Nomes para o faraó;
☥ A rainha dar de amamentar: era incomum (este era o papel das amas-de-leite), mas é possível que Nefertiti tenha amamentado suas filhas;
☥ Lápis de mesdemet: lembra os nossos atuais lápis de olho. Já falei sobre eles aqui no AE (clique aqui para ler);
☥ Mutilação do rosto para tornar a pessoa irreconhecível no além: isso era feito principalmente com as estátuas e desenhos parietais;
☥ Barcos de junco: que por acaso era o meio de transporte mais comum;
☥ Os arqueiros núbios para a segurança do faraó: inclusive o faraó Tutankhamon, que reinará anos após a morte de Akhenaton, terá um grupo de elite trabalhando para ele;
☥ Meninas como noivas e meninos como reféns: era uma tradição comum no Egito as princesas de países dominados casarem com o faraó e os príncipes serem criados com a alta realeza egípcia dando uma falsa ideia de “irmandade”.
☥ Sacrifício do boi com chifres enfeitados: Este animal enfeitado poderia ser oferecido em sacrifício aos faraós.
☥ Cuxe (Kushe) como sendo a “mina de ouro” do Egito: o ouro que abasteceu o Egito era retirado, principalmente, do atual Sudão, onde antigamente estava localizado o reino de Kushe;
☥ Tempestade de areia: eram, e ainda são, bastante comuns no Egito. A mais perigosa é chamada de khamsin.
Ankhkheperura é citada no livro?
Este é um pequeno spoiler. Recomendo que você prossiga somente se já leu todo o livro:
Clique aqui para ler o spoiler
Em um determinado momento Rahotep lê um texto que termina com a seguinte frase: “Quando alcançares o que procuras, verás que é uma mulher. Seu símbolo é a vida.” (página 184). Não sei se foi proposital por parte do Drake, mas existiu entre os reinados de Akhenaton e Tutankhamon o reinado de uma pessoa chamada Ankhkheperura Neferneferuaton. Por muito se achou que ela seria o rei Ankhkheperura Smenkhara. Entretanto, alguns egiptólogos acreditam que Ankhkheperura seria, em verdade, uma mulher e que esta poderia ter sido Nefertiti. O “ankh” (Ankhkheperura) significa “vida”.
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Considerações finais:
“Nefertiti: O Livro dos Mortos” é um livro pouco usual no sentido de que não se apega a um Egito místico, tão comum em obras orientalistas. E apesar de não ter despertado muito o interesse dos booktubers (não encontrei nenhuma resenha) é uma obra que aconselho, em especial para quem gosta de enredos que envolvam mistérios e romances policiais. Embora eu particularmente não tenha achado os acontecimentos finais tão interessantes estou muito empolgada para começar a ler a sua continuação, o “Tutancâmon”.
A Editora Record ainda não demonstrou (ao menos não publicamente) interesse em trazer o volume final, Egypt: The Book of Chaos.
Quando os primeiros exploradores europeus chegaram ao Egito em busca dos seus tesouros arqueológicos — fossem eles estátuas, imagens parietais, sarcófagos e, claro, joias — descobriram que todas as tumbas reais tinham sido saqueadas em algum momento da antiguidade[1]. Desta forma, foi uma surpresa quando nas décadas de 1870-80 artefatos com nomes de faraós e alguns dos seus parentes começaram a aparecer no mercado de antiguidades (DAVID, 2011).
Os registros dessa época somente passam uma ideia geral dos acontecimentos, mas, temos ciência de que a polícia egípcia, após algumas investigações, chegou até um homem chamado Ahmed Abd er-Rassul, que àquela altura era suspeito de violar sepulturas antigas (O’CONNOR et al, 2007).
Ahmed em frente a tumba. Foto disponível em REEVES, 2008.
Apesar de ter sofrido um duro interrogatório — que incluiu tortura — Ahmed negou a acusação. Porém, um parente seu, um senhor chamado Mohamed, o denunciou para as autoridades e revelou de onde estavam saindo os artefatos: eles tinham sido encontrados dez anos antes, em 1871, em uma sepultura da época dos faraós, que possuía vários corpos (HAGEN et al, 1999; O’CONNOR et al, 2007; DAVID, 2011). A revelação foi um grande choque, em especial porque quando os arqueólogos entraram no lugar descobriram que dentro dos caixões estavam pouco mais de 40 múmias [2] e algumas delas eram as de grandes personalidades do passado tais como Ahmés-Nefertari, Seti I e Ramsés II (O’CONNOR et al, 2007).
A sepultura, cujo dono é desconhecido — parte dos egiptólogos estão divididos entre Inhapi ou Ahmose Merytamen —, foi construída próximo ao templo mortuário da faraó Hatshepsut, em Deir el-Bahari, literalmente do outro lado do Vale dos Reis e possui dois corredores e duas câmaras. Por conta da sua localização a priori foi catalogada como DB320 (Deir el-Bahari 320), mas na atualidade ela é chamada de TT320 (Tumba Tebana 320).
Ilustração representando Gaston Maspero em frente da tumba.
Localização da sepultura do ponto de vista dos templos mortuários de Hatshepsut e Mentuhotep. Fonte: Wikimedia.
Entrada da TT320. Fonte: Wikimedia.
Apesar da magnitude do achado o arqueólogo responsável pela remoção dos corpos e dos artefatos, Emil Brugsch (1842 – 1930), não realizou nenhum registro do sítio (O’CONNOR et al, 2007), algo que é impensável nos dias de hoje. Isso acaba comprometendo as análises futuras e consequentemente retira as chances de conseguir respostas para questões feitas atualmente acerca do sepulcro e das múmias e artefatos depositados lá dentro.
Entrando na Sepultura:
Para entrar no tal sepulcro, Brugsch precisou descer um poço com uma corda e passar por uma abertura com cerca de um metro de altura. O primeiro ataúde que viu pertencia a um sumo-sacerdote e mais adiante encontrou mais outros três. Necessitou avançar passando por um corredor com algumas pequenas antiguidades e seguiu por um pequeno lance de escadas até uma saleta. Foi lá que, sob a luz de velas, encontrou enormes ataúdes e em alguns deles com o nome de grandes faraós. Mais tarde ele declarou:
“Percebi a situação com o ofego e apressei-me a sair ao ar livre a fim de não me deixar vencer pelo o que via e que o glorioso achado, ainda não revelado, se perdesse para a ciência” [3] (O’CONNOR et al, 2007, p. 23).
Após esta saleta existe mais um corredor que leva até a câmara mortuária onde estavam mais corpos.
Temendo mais saques ele contratou cerca de 300 homens e embarcou todos os objetos em embarcações com destino ao Cairo. Mas, não foi uma viagem silenciosa: ao longo do Nilo homens atiravam com seus rifles para o céu e as mulheres lamentavam alto, um sinal de respeito e luto pelos antigos governantes falecidos. Já no Cairo a resposta foi menos respeitosa: na alfândega o funcionário responsável pelo recebimento da carga registrou as múmias como ” peixe seco” (O’CONNOR et al, 2007).
Autópsia e análise das múmias:
Tempos depois da chegada dos corpos, Gaston Maspero (1846 – 1916), supervisor geral do Serviço de Antiguidades, liberou as autópsias — que no caso das múmias é o que chamamos comumente de “desenfaixar” —. O primeiro faraó a passar por esse processo foi Tutmés III. As bandagens do Rei já tinham sido perturbadas em outro momento pelos Abd er-Rassul, que fizeram um buraco no seu peito. Quando os arqueólogos abriram o restante do envoltório encontraram a múmia quebrada na área do pescoço e nas pernas (O’CONNOR et al, 2007).
Múmia de Tutmés III ainda coberta. Na área do seu peito está um buraco, feito por saqueadores.
Dias depois foi a vez de Ramsés II, que ao contrário do seu antecessor longínquo estava inteiro, em perfeito estado de conservação, inclusive contendo cabelos. Ramsés II tinha sido posto em um sarcófago de madeira que o identificava através de inscrições escritas em negro (O’CONNOR et al, 2007).
Primeiras notas sobre a múmia de Ramsés II. Fonte: Wikimedia.
A próxima múmia possuía um enorme sarcófago bem trabalhado. Descobriu-se que o grande artefato pertenceu à Rainha Ahmés-Nefertari. Porém, quando as bandagens foram retiradas do corpo o que se seguiu foi uma surpresa desagradável. Nas palavras do próprio Maspero:
“Mas, assim que o corpo foi exposto ao ar externo, desapareceu literalmente num estado de putrefação, dissolvendo-se numa matéria escura que exalou um odor insuportável” (O’CONNOR et al, 2007, p. 25).
Existem duas fotografias que nos mostram a múmia da rainha na época em que foi descoberta, mas o destino do corpo na atualidade é incerto. De acordo com um relato da época, por conta do mau cheiro a múmia foi sepultada no interior do Museu Egípcio. Algo que não foi confirmado na atualidade e nenhuma das bibliografias consultadas deu uma resposta definitiva.
Ahmés-Nefertari. Foto: E. Smith.
Sarcófago de Ahmés-Nefertari.
Ramsés III foi o próximo, contudo, o seu rosto estava coberto por um revestimento betuminoso que escondia suas feições (O’CONNOR et al, 2007). Nos últimos dez anos o rei passou por análise que apontam que antes da sua morte ele sofreu um ataque violento que certamente teria causado a sua morte [4].
Nos dias seguintes mais oito múmias da realeza foram desembrulhadas. O arqueólogo francês Eugène Lefebure escreveu sobre esse trabalho, enaltecendo as emoções da época: “Quase todas as múmias estavam cobertas com grinaldas secas e lótus murchos que tinham permanecido intocados durante milhares de anos, e não havia melhor forma de compreender a suspensão do tempo e o freio a decomposição que ver essas flores imortais sobre os corpos eternizados” e complementou ” era a imagem de um sono interminável” (O’CONNOR et al, 2007, p. 26).
Alguns dos corpos que se encontram no sepulcro não foram identificados, outros, porém, com o auxílio de métodos invasivos e não invasivos, foram relacionados com outras múmias reais, a exemplo do “Homem Desconhecido E”, identificado através de um exame de DNA como um dos filhos de Ramsés III. Abaixo está uma tabela apontando o número de múmias e seus respectivos nomes, quando possível:
Nome
Dinastia
Título
Observações
Ahmés-Inhapi
17ª
Rainha
Irmã de esposa de Seqenenre Tao II.
Ahmés-Henutemipet
17ª
Princesa
Filha de Seqenenre Tao II.
Ahmés-Henuttamehu
17ª
Princesa
Filha de Seqenenre Tao II.
Ahmés-Meritamon
17ª
Princesa
Provavelmente filha de Seqenenre Tao II.
Ahmés-Nefertari
18ª
Rainha
Ahmés-Sipair
17ª
Principe
Provável filho de Seqenenre Tao II ou Ahmose I.
Ahmés-Sitkamose
17ª
Princesa
Provavelmente filha de Kamose, é possível que tenha casado com Ahmose I.
Amenhotep I
18ª
Faraó
Ahmose I
18ª
Faraó
Baket/Baketamon?
18ª
Princesa
Djedptahiufankh
21ª
Quarto Profeta de Amon
Casou com a filha de Pinudjem II e Neskhons, Nesitanebetashru.
Duathathor-Henuttawy
21ª
Rainha
Esposa de Pinedjem I
Isetemkheb
21ª
Chefe do harém de Amon-Rá
Irmã e esposa de Pinedjem II.
Maatkare
21ª
Esposa Divina de Amon
Filha de Pinedjem I.
Masaharta
21ª
Sumo Sacerdote de Amon
Filho de Pinedjem I.
Nebseni
Neskhos
Nesitanebetashru
21ª
Rainha
Esposa de Djedptahiufankh.
Nodjmet
21ª
Rainha
Esposa de Herihor.
Pinedjem I
21ª
Sumo Sacerdote de Amon
Pinedjem II
21ª
Sumo Sacerdote de Amon
Rai
18ª
Enfermeira Real
Enfermeira de Ahmés-Nefertari.
Ramsés II
19ª
Faraó
Ramsés III
20ª
Faraó
Ramsés IX
20ª
Faraó
Seqenenre Tao II
17ª
Faraó
Seti I
19ª
Faraó
Siamon
18ª
Príncipe
Filho de Ahmés-Nefertari e Ahmés I.
Sitamon
18ªª
Princesa
Filha de Ahmés e irmã de Amenhotep I
Tayuheret
21ª
Cantora de Amon
Possível esposa de Masaharta.
Tutmés I
18ª
Faraó
Tutmés II
18ª
Faraó
Tutmés III
18ª
Faraó
Desconhecido
Desconhecido E
Desconhecida
Possivelmente rainha Tetisheri, mãe de Tao II, Ahmose Nefertari e possivelmente Kamose.
Desconhecida
Desconhecido
Desconhecido
Desconhecido
Desconhecido
Tabela realizada de acordo com REEVS, 2008 e RICE 1999.
Resquícios de outros indivíduos, tais como sarcófagos, vasos canópicos, joias, etc, foram identificados espalhados pela tumba. Tudo o que foi encontrado posteriormente a denúncia de Mohamed encontra-se hoje no Museu do Cairo. Entretanto, os objetos saqueados pelos Abd er-Rassul jamais foram recuperados. Provavelmente atualmente estão em alguma coleção particular ou na galeria de um grande museu identificado como possuindo “procedência desconhecida”.
Referências bibliográficas:
DAVID, Rosalie. Religião e Magia no Antigo Egito (Tradução de Angela Machado). Rio de Janeiro: Difel, 2011.
MARIE, Rose; HAGEN, Rainer. Egipto (Tradução de Maria da Graça Crespo). Lisboa: Taschen, 1999.
O’CONNOR, D.; FORBES, D.; LEHNER, M. Grandes civilizações do passado: terra de faraós. Tradução de Francisco Manhães. 1ª Edição. Barcelona: Ed. Folio, 2007.
REEVES, Nicholas; WILKINSON, Richard. The Complete Valley of the Kings. London: Thames & Hudson, 2008.
RICE, Michael. Who’s Who in Ancient Egypt. 1ª Edição. Londres: Editora Routledg. 1999.
[1] Foi somente no início do século 20 que este quadro mudou com a descoberta da tumba do faraó Tutankhamon e parte do acervo fúnebre de Psusenes I
[2] Contando aqui tanto os corpos inteiros, como partes, como são o caso dos órgãos dentro dos vasos canópicos.
[3] Ele declarou isso possivelmente com medo de que as velas que o grupo carregava pudesse causar um incêndio.