Descoberta em 1922 pelo arqueólogo inglês Howard Carter, a tumba de Tutankhamon é uma das descobertas arqueológicas mais importantes da arqueologia egípcia. Um dos motivos? Ela foi encontrada praticamente intacta, ainda lacrada com o selo das necrópoles que foram postos lá há mais de 3000 anos. O outro foi por ter sido amplamente documentada por Carter, coisa que os arqueólogos da época raramente faziam.
E apesar de ser pequena, ela possui informações interessantes sobre o Egito Antigo, além de várias curiosidades. Por exemplo, sabia que no seu interior existia uma parede falsa que leva ao espaço que hoje chamamos de “câmara funerária”? É possível enxergar essa parede na foto que foi tirada por Harry Burton, fotógrafo oficial da missão de arqueologia — vejaafotono vídeo.
Então, que tal fazer um tour virtual por ela? E ainda com uma explicação detalhada de cada imagem presente? Veja o vídeo abaixo do canal Arqueologia pelo Mundo:
Ontem (30 de setembro de 2017) foi anunciada a descoberta de uma cabeça de uma estátua do faraó Akhenaton, que reinou durante o Novo Império, 18ª Dinastia. O achado foi feito por uma missão egípcia-britânica que encontrou o artefato na cidade de Minya, mais especificamente em Amarna, onde o rei governou o Egito em sua recém-criada capital, Aketaton.[1][2]
Através de um comunicado de imprensa o arqueólogo britânico Barry Kemp, professor de Egiptologia na Universidade de Cambridge e diretor da missão, explicou que a cabeça foi encontrada durante as escavações arqueológicas no Grande Templo de Aton. O artefato é feito de gesso e possui 9 centímetros de altura, 13,5 de largura e 8 centímetros de comprimento.[1][2]
Foto: MSA (Divulgação)
Akhenaton é famoso por ter elevado o deus solar Aton a divindade principal e ter mudado a capital do país de Tebas para Aketaton. Por este motivo o secretário geral do Supremo Conselho de Antiguidades, Mustafa Waziri, classificou esta descoberta como “importante”: “não só porque pertence a um dos reis mais importantes do antigo Egito, mas também porque abre a cortina dos segredos da antiga cidade de Tel Amarna, que é única em sua arte e religião.”[1]
“O perigo de ser um governante absoluto é que ninguém ousa lhe dizer que o que acaba de decretar não é uma boa ideia”. Estas são as palavras de Barry Kemp, diretor do Amarna Project — uma missão de arqueologia que escavou os sítios arqueológicos de Amarna por mais de três décadas — acerca de Akhenaton, faraó que governou o Egito no final do Novo Império, durante o chamado de Período Amarniano.
Amarna atualmente trata-se de uma cidadezinha, mas na época dos faraós lá floresceu uma capital que existiu por menos de vinte anos: Aketaton.
Akhenaton. Foto: Rena Effendi.
Fundada por Akhenaton, Aketaton foi a primeira cidade planejada do Egito e estima-se que no seu auge abrigou cerca de 30 mil pessoas. O faraó a criou para que além de nova capital do país ela se tornasse um local de paz e harmonia e era isso o que ele descrevia em seus textos. Contudo, a realidade apresentada pela arqueologia feita na região mostrou um quadro bastante diferente: enquanto a elite vivia em pleno luxo, a população comum sofria com os trabalhos pesados e a má alimentação. É isto o que o texto “Akhenaton: o primeiro revolucionário do Egito”, publicado pela revista National Geographic de maio (2017) nos traz.
O repórter Peter Hessler faz um resumo das análises de bioarqueologia realizadas com os corpos de pessoas comuns que foram sepultadas em dois dos quatro cemitérios da cidade e os dados mostram um quadro alarmante: o estudo do maior cemitério constatou que 70% dos indivíduos inumados lá morreram antes dos 35 anos e mais de um terço não alcançou nem os 15 anos. No segundo, que possuía 135 indivíduos, 92% das pessoas não tinham mais de 25 anos e a maioria possuía entre 7 e 15 anos na época em que faleceram.
Talatats. Foto: Rena Effendi.
A média de vida no Egito Antigo era curta[1], mas tantas pessoas falecendo tão jovens é preocupante, principalmente por conta das marcas de excesso de trabalho e de anemia severa (ROSE, 2006).
Akhenaton é uma figura única na história do Egito e como tal inspira várias pessoas da atualidade. Não é novidade alguma que governos ou grupos sociais utilizem artefatos ou figuras históricas como discurso (FUNARI, 2006) e Akhenaton não poderia fugir a essa regra. Esse é outro ponto abordado na matéria e com muito mais ênfase. Aqui ele é definido como o primeiro revolucionário, embora não exista um acordo entre arqueólogos de que ele de fato tenha sido um. Também temos uma brevíssima citação do uso da imagem dele por diferentes movimentos sociais e ideológicos. Cada um com a sua visão do passado, com suas próprias conclusões e igualmente ignorando os trabalhos de arqueologia.
Akhenaton. Foto: Rena Effendi.
Gravei um vídeo para o canal do Arqueologia Egípcia comentando outros pontos dessa matéria, além de esclarecer alguns comentários feitos acerca de Tutankhamon. Segue abaixo:
Já se foi a época em que a National Geographic era uma revista que valia pouco menos de R$ 8,00. Hoje ela custa R$ 20,00. Um reflexo da nossa economia e a falta de interesse do público pela leitura e obras impressas. Abaixo fotos da publicação:
Fotografias complementares:
Crânio encontrado em Amarna. Foto: Rena Effendi.
Barry Kemp. Foto: Rena Effendi.
Reconstituição do sítio arqueológico de Amarna. Foto: Rena Effendi.
Referências bibliográficas:
[1] Health Hazards and Cures in Ancient Egypt. Disponível em <http://www.bbc.co.uk/history/ancient/egyptians/health_01.shtml>. Acesso em 15 de Setembro de 2012.
FUNARI, Pedro Paulo. Arqueologia. São Paulo: Editora Contexto, 2006.
ROSE, Jerome C. Paleopathology of the commoners at Tell Amarna, Egypt, Akhenaten’s capital city. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz (Suppl. II), 2006.
Todas as fotos presentes neste post são de autoria de Fotos: Rena Effendi. As complementares não estão disponíveis na revista.