(Resenha – Série) “TUT”, uma série inspirada no faraó Tutankhamon (“Rei Tut”; 2015)

Por Márcia Jamille Costa | @MJamille | Instagram

Este texto não contém spoiller.

Lançado em 2015, “Rei Tut” (“TUT”, no original), tem o enredo baseado na tentativa do jovem e rebelde faraó Tutankhamon (Avan Jogia) em manter o seu país a salvo, ao mesmo tempo que tenta se manter no trono, que é cobiçado por altos  cortesões e pelo clero tebano do deus Amon.

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A série ganhou destaque por trazer um Tutankhamon repaginado e inspirado em sua vida militarizada, cujos detalhes estão surgindo graças as descobertas arqueológicas que ocorreram nos últimos anos, em especial os seus talatats que foram encontrados em Luxor e que relatam detalhes de como o exército do jovem rei colocou um fim em uma rebelião na Núbia (atual Sudão) (JOHNSON, 1990).

Porém, como muitas outras produções que envolvem acontecimentos do passado, a série “Rei Tut” não se livrou dos erros históricos, como, por exemplo, apresentar roupas anacrônicas tais como a adoção de túnicas e cortes, cores ou tecidos que não fizeram parte do vestuário egípcio antigo (tema que espero abordar em um futuro próximo, quando o canal do AE no Youtube alcançar 5.000 inscritos; clique aqui e saiba do que estou falando).

É feita também uma confusão em relação aos inimigos do Egito, apresentados na produção como os Mitanis, sendo que o problema naquele período eram os hititas. Explicando de forma rápida: no principio da 18ª Dinastia de fato os mitanis eram inimigos do Egito, no entanto, para estabelecer a paz entre ambos os países, os faraós Tutmés IV e Amenhotep III desposaram princesas desse reino. Entretanto, com o reinado de Akhenaton as coisas não se saíram tão bem, uma vez que o faraó não cedeu auxilio ao mitanis quando esses foram invadidos pelos hititas. Então, com a chegada do governo de Tutankhamon a relação entre essas nações tinha chegado ao fim, em especial devido a derrota anterior mitani (DARNELL, 2007 ).

Outro problema está em o faraó aparecer na frente de várias pessoas sempre. Esta não era uma prática comum, principalmente na época de Tutankhamon.

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Alguns erros em relação a arquitetura também são apresentados, como o palácio, retratado com andares e colunas em cada um, ou o Vale dos Reis, que está muito longe de parecer geograficamente com o real, além de ter sido montada uma superestrutura [1] para a tumba de Tutankhamon, algo que jamais existiu na realidade.

Como já apresentei anteriormente aqui no site e no canal, alguns dos principais personagens realmente existiram. O primeiro, naturalmente, é o faraó Tutankhamon, sua esposa Ankhsenamon, Akhenaton, seu vizir Ay, seu general Horemheb e dois personagens que na época em que comentei o trailer eu não sabia que tinham sido incluídos, que é o Narkhmind e o rei Tushratta. Os demais, a exemplo dos amantes do casal Tutankhamon e Ankhsenamon, foram inventados para a trama.

O Tutankhamon e a Ankhesenamon da realidade. Para saber como era o rosto dos demais personagens clique aqui. Fonte: STROUHAL, Eugen. A vida no Antigo Egito (Tradução de Iara Freiberg, Francisco Manhães, Marcelo Neves). Barcelona: Folio, 2007.

Tutankhamon e Ankhsenamon.

É citada uma praga no enredo e de fato ela existiu, mas o seu fim em nada tem relação com o desfecho apresentado na trama. Ela, em verdade, se seguiu além da morte de Tutankhamon.

“Rei Tut” estreou no Brasil através da Netflix e do canal fechado The History Channel. E no início de 2016 os seus direitos de exibição na TV aberta foram comprados pela Rede Globo. Contudo, não existe previsão de veiculação.

Fontes: 

JOHNSON, Raymond. The Tutankhamun Talatat. Chicago House Bulletin. Volume 1, N°3, August 15, 1990.
DARNELL, John Coleman; MANASSA, Colleen. Tutankhamun’s Armies: Battle and Conquest During Ancient Egypt’s Late Eighteenth Dynasty. Ney Jersey: John Wiley, 2007.

Links interessantes: 

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O casal Ankhesenamon e Tutankhamon
7 curiosidades sobre o faraó Tutankhamon
The End of the Amarna Period
Tutankhamun’s War


[1] A “subestrutura” era onde o corpo era sepultado, já a “superestrutura” era a parte externa do túmulo.