A Paleta de Narmer: entre mitos e realidades da unificação egípcia

A Paleta de Narmer, um artefato de grande significado histórico, remonta ao Período Arcaico do Antigo Egito, marcando os primórdios da “era dos faraós”. Descoberta durante as escavações realizadas por James Quibell em 1894, essa peça de xisto verde, com suas impressionantes dimensões de 64 cm de altura por 42 cm de largura, despertou o interesse dos pesquisadores devido à possibilidade de ser um testemunho da unificação do Alto e Baixo Egito.

Paleta de Narmer. Creative Commons

Alguns pesquisadores identificam o personagem principal dessa paleta, o Narmer, como sendo o mesmo indivíduo conhecido como o lendário “Menés” (Meni), um governante mencionado como unificador do Egito por Manetho (um sacerdote egípcio que viveu durante a era ptolomaica e que dividiu os reinos dos faraós em dinastias).

A identificação do seu protagonista, Narmer, como possivelmente sendo o lendário Menés, o governante mencionado por Manetho, tem gerado debates e especulações entre os estudiosos. No entanto, à medida que exploramos a história e as descobertas recentes, surge a questão sobre a realidade dessa associação, já que existem pesquisas apontando para a existência de um Egito já unificado antes da criação dessa notável paleta. Neste texto, examinaremos a paleta de Narmer, seu contexto histórico.

Explorando o propósito e significado da Paleta de Narmer

A Paleta de Narmer tem despertado debates sobre sua finalidade e significado. Acredita-se que foi um instrumento para a produção de maquiagem de olho, que era feita com malaquita ou galena. Mas, embora servisse para fazer maquiagens, provavelmente tinha um propósito ritual, devido ao local em que foi descoberta: um depósito de objetos sagrados relacionados a um templo do deus Hórus. Na mitologia egípcia, o olho de Hórus era considerado a manifestação do Sol, e as paletas eram utilizadas para aplicar maquiagem nos olhos. Portanto, supõe-se que elas fossem oferendas para proteger os olhos divinos do deus contra o mal.

Decifrando os significados das imagens na Paleta de Narmer

A peça é dividida em três partes principais, sendo possível identificar elementos emblemáticos em cada uma delas. (1) Nas duas faces da paleta, são visíveis cabeças femininas com chifres, provavelmente representando a deusa Hathor, uma divindade que remonta ao Período Pré-dinástico. Essas figuras estão posicionadas ao lado de um pavimento, conhecido como “Serekh” (2), onde se encontra o nome “Namer”.

(3) Logo abaixo, o rei usa a coroa branca, chamada “hedjet” e segura uma clava prestes a executar um inimigo. Essa imagem apresenta uma das primeiras representações governamentais conhecidas, simbolizando o rei estabelecendo a ordem ao derrotar o mal.

(4) Outro detalhe simbólico inclui um falcão agarrando o rosto de um inimigo e a presença de plantas de papiro. O falcão é o símbolo do deus Hórus, que por sua vez é o símbolo do rei governante. O fato de o homem estar relacionado às plantas de papiro pode ser uma alegoria à população do Delta do Nilo, onde o papiro era cultivado. Nessa representação, o falcão domina esse indivíduo, transmitindo a ideia de domínio.

Na outra face da paleta, (5) observa-se a figura do rei, originário do Alto Egito, vestindo a coroa vermelha, chamada de “deshret”, do Baixo Egito. À sua frente, encontra-se o seu nome. (6) Atrás do rei, há uma figura segurando um par de objetos, conhecido como “porta-sandálias”.

(7) Outras pessoas retratadas na paleta seguram varas, sendo interpretadas como “porta-estandartes”, possivelmente personificando diferentes regiões do Egito.

Essa pequena procissão segue em direção a um local com corpos decapitados (8), provavelmente representando inimigos derrotados. Acredita-se que a paleta celebre a unificação do Egito, já que Namer utiliza a coroa dos inimigos, simbolizando sua autoridade ao entrar em um território recentemente conquistado.

(9) Outro simbolismo presente na paleta é o touro atacando uma pessoa. Na antiguidade egípcia, o touro era uma representação da força do rei. Nessa cena, o touro parece caçar o homem e, ao mesmo tempo, derrubar muralhas, simbolizando o poder do rei combatendo as forças hostis dos inimigos já derrotados.

Veja todos esses e outros detalhes explicados no vídeo abaixo:

Fontes:

La paleta de Narmer, el primer faraón. Disponível em < https://historia.nationalgeographic.com.es/a/paleta-narmer-primer-faraon_15398 >. Acesso em 17 de maio de 2023.
The Royal Crowns of Egypt. Disponível em < https://www.ees.ac.uk/the-royal-crowns-of-egypt >. Acesso em 17 de maio de 2023.