Ontem (30 de setembro de 2017) foi anunciada a descoberta de uma cabeça de uma estátua do faraó Akhenaton, que reinou durante o Novo Império, 18ª Dinastia. O achado foi feito por uma missão egípcia-britânica que encontrou o artefato na cidade de Minya, mais especificamente em Amarna, onde o rei governou o Egito em sua recém-criada capital, Aketaton.[1][2]
Através de um comunicado de imprensa o arqueólogo britânico Barry Kemp, professor de Egiptologia na Universidade de Cambridge e diretor da missão, explicou que a cabeça foi encontrada durante as escavações arqueológicas no Grande Templo de Aton. O artefato é feito de gesso e possui 9 centímetros de altura, 13,5 de largura e 8 centímetros de comprimento.[1][2]
Foto: MSA (Divulgação)
Akhenaton é famoso por ter elevado o deus solar Aton a divindade principal e ter mudado a capital do país de Tebas para Aketaton. Por este motivo o secretário geral do Supremo Conselho de Antiguidades, Mustafa Waziri, classificou esta descoberta como “importante”: “não só porque pertence a um dos reis mais importantes do antigo Egito, mas também porque abre a cortina dos segredos da antiga cidade de Tel Amarna, que é única em sua arte e religião.”[1]
“O perigo de ser um governante absoluto é que ninguém ousa lhe dizer que o que acaba de decretar não é uma boa ideia”. Estas são as palavras de Barry Kemp, diretor do Amarna Project — uma missão de arqueologia que escavou os sítios arqueológicos de Amarna por mais de três décadas — acerca de Akhenaton, faraó que governou o Egito no final do Novo Império, durante o chamado de Período Amarniano.
Amarna atualmente trata-se de uma cidadezinha, mas na época dos faraós lá floresceu uma capital que existiu por menos de vinte anos: Aketaton.
Akhenaton. Foto: Rena Effendi.
Fundada por Akhenaton, Aketaton foi a primeira cidade planejada do Egito e estima-se que no seu auge abrigou cerca de 30 mil pessoas. O faraó a criou para que além de nova capital do país ela se tornasse um local de paz e harmonia e era isso o que ele descrevia em seus textos. Contudo, a realidade apresentada pela arqueologia feita na região mostrou um quadro bastante diferente: enquanto a elite vivia em pleno luxo, a população comum sofria com os trabalhos pesados e a má alimentação. É isto o que o texto “Akhenaton: o primeiro revolucionário do Egito”, publicado pela revista National Geographic de maio (2017) nos traz.
O repórter Peter Hessler faz um resumo das análises de bioarqueologia realizadas com os corpos de pessoas comuns que foram sepultadas em dois dos quatro cemitérios da cidade e os dados mostram um quadro alarmante: o estudo do maior cemitério constatou que 70% dos indivíduos inumados lá morreram antes dos 35 anos e mais de um terço não alcançou nem os 15 anos. No segundo, que possuía 135 indivíduos, 92% das pessoas não tinham mais de 25 anos e a maioria possuía entre 7 e 15 anos na época em que faleceram.
Talatats. Foto: Rena Effendi.
A média de vida no Egito Antigo era curta[1], mas tantas pessoas falecendo tão jovens é preocupante, principalmente por conta das marcas de excesso de trabalho e de anemia severa (ROSE, 2006).
Akhenaton é uma figura única na história do Egito e como tal inspira várias pessoas da atualidade. Não é novidade alguma que governos ou grupos sociais utilizem artefatos ou figuras históricas como discurso (FUNARI, 2006) e Akhenaton não poderia fugir a essa regra. Esse é outro ponto abordado na matéria e com muito mais ênfase. Aqui ele é definido como o primeiro revolucionário, embora não exista um acordo entre arqueólogos de que ele de fato tenha sido um. Também temos uma brevíssima citação do uso da imagem dele por diferentes movimentos sociais e ideológicos. Cada um com a sua visão do passado, com suas próprias conclusões e igualmente ignorando os trabalhos de arqueologia.
Akhenaton. Foto: Rena Effendi.
Gravei um vídeo para o canal do Arqueologia Egípcia comentando outros pontos dessa matéria, além de esclarecer alguns comentários feitos acerca de Tutankhamon. Segue abaixo:
Já se foi a época em que a National Geographic era uma revista que valia pouco menos de R$ 8,00. Hoje ela custa R$ 20,00. Um reflexo da nossa economia e a falta de interesse do público pela leitura e obras impressas. Abaixo fotos da publicação:
Fotografias complementares:
Crânio encontrado em Amarna. Foto: Rena Effendi.
Barry Kemp. Foto: Rena Effendi.
Reconstituição do sítio arqueológico de Amarna. Foto: Rena Effendi.
Referências bibliográficas:
[1] Health Hazards and Cures in Ancient Egypt. Disponível em <http://www.bbc.co.uk/history/ancient/egyptians/health_01.shtml>. Acesso em 15 de Setembro de 2012.
FUNARI, Pedro Paulo. Arqueologia. São Paulo: Editora Contexto, 2006.
ROSE, Jerome C. Paleopathology of the commoners at Tell Amarna, Egypt, Akhenaten’s capital city. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz (Suppl. II), 2006.
Todas as fotos presentes neste post são de autoria de Fotos: Rena Effendi. As complementares não estão disponíveis na revista.
Nos muitos livros e revistas dedicados a falar sobre a civilização egípcia sempre nos deparamos com a afirmativa de que o Egito só prosperou por conta das cheias do Nilo. Entretanto, raramente somos alertados de que para que elas pudessem ser aproveitadas de forma satisfatória canais foram construídos para distribuir a água e permitir o transporte de pessoas, animais, alimentos e matérias-primas por todo o país, assim como barragens de contenção eram utilizadas para evitar que as fortes cheias invadissem as residências.
Fora que é um pensamento muito simplista considerar que a arquitetura, independente da época, tem como única finalidade edificar abrigos ou edifícios belos. Ela, acima de tudo, é algo proposital, ou seja, independentemente do tamanho da obra, o seu planejamento necessitou de toda uma organização humana. Por esse motivo, não se pode ignorar que ela pode ser capaz de influenciar na percepção das pessoas em relação a uma determinada cultura, religião, figura política, etc.
Abaixo, compartilho um vídeo que gravei para o canal do Arqueologia Egípcia no Youtube (clique aqui para se inscrever) onde dou alguns exemplos do uso da Arquitetura como uma ferramenta de poder e como um discurso religioso. Também apresento alguns tipos de moradias e falo sobre a construção de túmulos:
Quando pensamos no Egito Antigo, não é incomum lembrarmos imediatamente das pirâmides ou dos túmulos do Vale dos Reis, como se a Arquitetura egípcia tivesse sido desenvolvida única e exclusivamente para atender a morte e o suposto fascínio que os egípcios possuíam por temas de cunho funerário. Resumir toda uma população de uma civilização que existiu por milênios a suposição de que todos eram indivíduos melancólicos ou obcecados com a ideia da morte é um erro. Atualmente é reconhecido que essas pessoas estavam mais interessadas em perpetuar a vida e tentar evitar a inevitável morte.
Imagem 1: Pirâmide em Deir el-Medina. Foto: WILDUNG, 2009.
Assim, a perspectiva de que através de ritos, amuletos e da própria arquitetura seria possível dar uma chance ao falecido de ingressar em um novo ambiente – uma pós vida – foi vista com muita consideração. No entanto, paralelamente a ideia de eternidade, foi um pensamento comum o de que uma vez que a vida após a morte seria infinita, não teria cabimento que o corpo do morto e a sua tumba fossem finitos. Por este motivo foi que a arquitetura tumular fez uso de matérias primas mais resistentes tais como pedras calcárias ou granito, enquanto que casas eram feitas com tijolos de barro.
Imagem 2: Cena disponibilizada pela Edições Del Prado, uma editora especialista em venda de modelos colecionáveis. Confira aqui outras imagens!
Seguindo um principio parecido era os templos egípcios, ao menos os principais, tais como os de Karnak, Luxor, Abu Simbel, etc.
Imagem 3: Foto aérea do templo de Karnak. Foto: National Geographic.
E ainda temos, claro, as moradias tanto das pessoas da realeza, como daquelas de fora dela. Em ambos os casos os materiais mais comuns utilizados foi o adobe e é exatamente por isso que não possuímos nenhuma amostra desse tipo de edificação totalmente de pé. Contudo, os antigos egípcios nos brindaram com uma extensa iconografia e muitas maquetes, algumas das quais utilizei como base para construir os modelos que apresento no vídeo que abre essa postagem.
Imagem 4: Representação de uma casa do Período Faraônico. Foto: STROUHAL, 2007.
Imagem 5: Reprodução de casa do Peíodo Faraônico.
Arquitetura egípcia é um tema muito amplo e que planejo retomar muito em breve apontando casos mais específicos. Lembrando que lá no canal já falei, por exemplo, do templo de Ramsés II em Abu Simbel. Clique aqui e assista.
Fontes:
BAINES, John; MALEK, Jaromir. Deuses, templos e faraós: Atlas cultural do Antigo Egito (Tradução de Francisco Manhães, Maria Julia Braga, Michael Teixeira, Carlos Nougué). Barcelona: Folio, 2008.
DODSON, Aidan. As Pirâmides do Antigo Império (Tradução de Francisco Manhães, Maria Julia Braga, Carlos Nougué). Barcelona: Folio, 2007.
KEMP, B. El Antiguo Egipto: Anatomía de uma civilización. Tradução de Mònica Tusell. Barcelona: Ed. Crítica, 1996.
STROUHAL, Eugen. A vida no Antigo Egito (Tradução de Iara Freiberg, Francisco Manhães, Marcelo Neves). Barcelona: Folio, 2007.
ZARANKIN, Andrés. Arqueología de la Arquitectura: modelando al individuo disciplinado em la sociedad capitalista. Revista de Arqueologia Americana. n. 22, 2003; p. 25-39.
WILDUNG, Dietrich. O Egipto: da pré-história aos romanos (Tradução de Maria Filomena Duarte). Lisboa: Taschen, 2009.
Nefertiti é uma das figuras mais icônicas para os (as) fãs do Antigo Egito e é tomada por muitos (as) como um exemplo da beleza egípcia antiga graças ao seu busto encontrado em 06 de dezembro de 1912 no ateliê do artista Tutmés, em Aketaton (atual Amarna).
Nefertiti. Fonte da imagem AFP. Disponível em <http://www.google.com/hostednews/afp/article/ ALeqM5hdhUI4kP9k3k4OlCPPxsxKIKID_Q>. Acesso em 02 de Outubro de 2012.
Porém, a curiosidade que trago hoje é acerca das costas do item, uma das partes deste artefato que raramente, ao menos para quem nunca viu esta peça pessoalmente, é possível dar uma olhada:
Costas do busto da rainha Nefertiti. Foto de Teresa Soria Trastoy.
O busto de Nefertiti pode ser visitado atualmente no Neues Museum de Berlim.