Nefertiti… Falsificada?

Por Márcia Jamille Costa

 

Em 2009 uma notícia preocupou arqueólogos e egiptólogos e trouxe a tona esquemas de uma das mais famosas ações de contrabando ligada à arqueologia egípcia. Um historiador suíço chamado Henri Stierlin lançou para a impressa que o famoso busto da rainha Nefertiti, que está na Alemanha, seria uma falsificação.

 

Rainha Nefertiti. Foto: M. Busing.

 

De acordo com ele o afamado objeto foi copiado em 1912 pelos alemães para testar os antigos pigmentos utilizados pelos egípcios, Stierlin acredita que o busto que conhecemos foi feito por um artista chamado Gerardt Marks, contratado pelo o próprio descobridor da peça, Ludwig Borchardt.

 

Primeira foto do busto de Nefertiti. Seu descobridor, em carta ao patrocinador da expedição, teria pedido discrição para que o busto não chamasse atenção das autoridades egípcias.

 

A idéia de usar o busto como se fosse verdadeiro, de acordo com o historiador, partiu quando o príncipe alemão, Johann Georg, acreditou que o busto seria realmente antigo. Envergonhado, Borchardt não assumiria ao seu senhor a verdade.

Stierlin acredita que o busto é falso devido à própria aparência do objeto. Ele aponta a falta de um dos olhos como uma evidência, para ele um egípcio antigo jamais teria permitido ter uma imagem sua – que era como se fosse seu duplo – reproduzida faltando um pedaço. Também aponta o corte dos ombros da peça, que é em estilo vertical, algo que ele acredita ter surgido somente no século XIX na Europa. Ele também menciona a ausência de descrição do artefato em relatórios científicos durante a avaliação para sua saída do Egito, o que para ele é uma prova de que o objeto nem sequer esteve lá alguma vez.

 

Rainha Nefertiti. Foto: Hirmer Verlag.

 

As conclusões de Stierlin foram publicadas em seu livro Le Buste de Nefertiti – une Imposture de l’Egyptologie (2009). Outro autor e historiador que apoiou a afirmação foi o alemão Edrogan Ercivan em seu livro Missing Link in Archaeology, publicado também em 2009. Além de afirmar que o busto é falso ainda diz que a imagem foi baseada na própria esposa de Borchardt.

 

Le Buste de Nefertiti – une Imposture de l'Egyptologie. Autor: Henri Stierlin.

 

No entanto o busto passou por testes radiológicos, o que provou que ele realmente tem mais de 3.000 anos de idade. Os exames mostraram uma face oculta, como se fosse um núcleo para apoiar a estrutura de gesso, exatamente da forma como as esculturas de faces da cidade de Aketaton eram feitas. Mesmo assim Stierlin permanece imputável, para ele como o exame de Carbono 14 não é possível de ser realizado o busto não pode ser datado.

 

 

Imagens dos testes radiológicos no busto da rainha Nefertiti.

 

 

Questionado pelo o jornal The Guardian, o diretor do Museu Egípcio de Berlim, Dietrich Wildung, negou as acusações. “Uma mulher bonita e um suposto escândalo… Isso sempre vende”, comentou. Ele mesmo encomendou o teste para saber a autenticidade da peça e concluiu que de fato era antiga.

 

Curiosidades sobre o busto e seu descobridor:

– Em 1895, Ludwig Borchardt chegou ao Egito. Ele utilizava a fotografia para documentar sua viajem, o que acabou combinado, de forma gratificante, à arqueologia: um dos seus trabalhos mais importantes foi o cadastro fotográfico do acervo do Museu Egípcio do Cairo;

– O busto da rainha Nefertiti foi descoberto em 1912 na oficina do artista Tutmoses – local onde foram encontradas outras peças que retratavam pessoas da corte do faraó Akhenaton -. Para sair do Egito a imagem da governante ficou oculta dos inspetores enquanto Borchardt apresentava as peças mais chamativas. Este acontecimento foi subentendido pelo o próprio arqueólogo em uma de suas cartas;

– Com medo de represálias egípcias Borchardt e seu patrocinador mantiveram a peça escondida até 1924;

– Em 1933, Hitler proibiu a saída de Nefertiti da Alemanha, boatos nos anos 80 falariam que o ditador encomendou um segundo busto a fim de tentar enganar os egípcios.  

 

Para saber mais:

Documentário: Nefertiti’s Odyssey (No Brasil “Nefertiti”)

Canal: National Geografic Channel

 

* Fonte da notícia (conclusões de Stierlin): AFP